O genocídio das tribos Nama e Herero no início do século XX voltou a estar na ordem do dia, depois de o partido alemão Die Linke apresentar uma proposta de reconciliação com a Namíbia.
A Alemanha e a Namíbia continuam a debater uma controversa herança do passado colonial alemão: o genocídio das tribos Nama e Herero, no início do século XX, às mãos do exército alemão. O assunto regressou ao Parlamento esta quinta-feira (17.03).
O partido Die Linke apresentou uma proposta de reconcialiação com a Namíbia, prevendo um pedido de desculpas formal pelo genocídio das duas tribos no então conhecido como Sudoeste Africano Alemão.
Mas sem sucesso: a maioria dos deputados do Parlamento votou contra a moção, remetendo o debate para as negociações entre os Governos de ambos os países, iniciadas no ano passado.
Andreas Guibeb, embaixador da Namíbia em Berlim, fala em “grandes progressos” nas conversações. Guibeb admira a forma como a Alemanha lidou com os crimes da era Nazi e o facto de o país ter pedido desculpas aos países e populações afetadas. “Esperamos que o exemplo seja seguido quanto à Namíbia: que o Presidente ou a chanceler [Angela Merkel] apresentem esse pedido de desculpas”, afirmou o embaixador namibiano.
Será um pedido de desculpas suficiente?
Durante décadas, o Governo alemão recusou-se a usar a palavra genocídio para classificar o extremínio de milhares de pessoas das tribos Herero e Nama, em 1904.
No ano passado, a palavra surgiu pela primeira vez nas vozes do Presidente do Parlamento, Norbert Lammert, e do ministro dos Negócios Estrangeiros, Frank-Walter Steinmeier. Muitos consideram que o pedido de desculpas alemão vai acabar por acontecer, mais cedo ou mais tarde.
No entanto, para alguns membros das tribos Herero e Nama um pedido de desculpas não é suficiente. Exigem negociações tripartidas e não apenas entre os Governos alemão e namibiano. E contam com o apoio no Parlamento alemão.
“A grande questão é: serão os descendentes das vítimas Herero e Nama incluídos num acordo entre os dois governos? Eles já deixaram claro que não vão aceitar um pedido de desculpas acordado sem eles”, afirma Niema Movassa, do Die Linke, o partido que apoia a presença dos descendentes das vítimas no seio das negociações.
Mas os Governos alemão e o namibiano recusam partilhar a mesa das negociações com os ativistas. Andreas Guibeb relembra, em entrevista à DW, que o seu Governo formou um comité que pediu sugestões a todas as autoridades tradicionais no país, mas não há um convite oficial para participar nas negociações.
“As negociações acontecem entre representantes eleitos do Governo e não todas as comunidades”, afirma o embaixador da Namíbia. “Temos muitas autoridades tradicionais no país reconhecidas pelo Governo. Se as incluíssemos todas, teríamos negociações numa Assembleia Nacional. Não é assim que as coisas funcionam”.
Divergências sobre indemnizações
E há ainda divergências quanto ao dinheiro. Os Herero já deixaram claro que esperam indemnizações da Alemanha. Segundo o Die Link, as áreas onde os membros da tribo vivem são das mais pobres do país e isto está ligado ao genocídio.
Desde a independência, a Namíbia já recebeu da Alemanha cerca de 800 milhões de euros, uma ajuda ao desenvolvimento vista por alguns como uma forma indireta de indemnização. Elisabeth Motschmann, membro da União Democrática Cristã (CDU, a coligação que governa a Alemanha a nível federal), relembrou este valor durante as discussões desta quinta-feira (17.03) no Parlamento e criticou o Die Link por explorar um tema que não é adequado para “jogos políticos do partido”.
A deputada remeteu a questão para as negociações entre os governos da Alemanha e da Namíbia, que continuam sem fim à vista. Fonte: DW