terça-feira, 22 de março de 2016

ETIÓPIA: ANTIGO PRESIDENTE DA NIGÉRIA CULPA ALGUNS CHEFES DE ESTADO AFRICANOS POR CONFLITOS

Olusegun Obasanjo
Addis Abeba - O antigo presidente da Nigéria, Olusegun Obasanjo, responsabilizou segunda-feira em Addis Abeba, alguns chefes de Estado africanos pela instabilidade no continente, noticia hoje (terça-feira) a African Press Organization (APO).

Obasanjo argumenta que "não conseguiram gerir a diversidade" nas diferentes sociedades.

O antigo líder nigeriano não apontou quais os presidentes que culpabiliza, quando falava segunda-feira numa conferência de imprensa em Addis Abeba destinada a dar conta da realização do Fórum de Alto Nível do Tana sobre Segurança em África, que decorrerá a 16 e 17 de Abril em Bahir Dar, noroeste da Etiópia.

"Alguns líderes africanos são responsáveis pela instabilidade no continente porque não conseguiram gerir a diversidade nas suas sociedades", afirmou o ex-presidente nigeriano, denunciando ainda que as interferências externas em África também foram responsáveis pelos conflitos.

Obasanjo deu como exemplo os ataques aéreos da OTAN (Organização do Tratado  do Atlântico Norte) na Líbia, em 2011, que levaram à queda do regime de Muammar Kadhafi.
"As repercussões estão agora a fazer-se sentir no Mali, Nigéria e no Sahel", afirmou Obasanjo.

Questionado sobre se os líderes africanos eram culpados pelos conflitos no continente, Obasanjo respondeu: "sim e não".

Para o ex-presidente nigeriano, os líderes africanos estão a decepcionar os seus povos porque não têm conseguido impedir a marginalização nas suas sociedades, prevenir a injustiça, reduzir o desemprego e a pobreza, ou abraçado a democracia e a boa governação.

Relembrou as repercussões da intervenção da OTAn na Líbia, que motivou críticas recentes do Presidente norte-americano, Barack Obama, aos governos britânico e francês por terem eliminado Kadhafi "sem terem planos para ter um seguimento "eficaz".

Sobre a questão das operações de manutenção de paz africanas, Obasanjo concordou que a falta de financiamento dos estados-membros da União Africana (UA) foi um contratempo significativo para a paz e segurança no continente.

Recordou que, quando foi presidente da Nigéria (1999/2007), foi responsável por um painel de alto nível cujo objetivo era procurar fontes alternativas de financiamento para a UA, mas que não deu frutos.

"Quando a UA estava à procura de financiamento para combater o vírus Ébola na Serra Leoa, Libéria e Guiné, os estados-membros não forneceram os fundos. A UA acabou por ter de se voltar para o sector privado, conseguindo angariar 40 milhões de dólares (35,5 milhões de euros)", afirmou Obasanjo, presidente do Fórum Tana.

Criticando os Estados-membros da UA por não contribuírem para o orçamento geral da organização pan-africana, Obasanjo lamentou a falta de vontade política reinante.

Para Obasanjo, o Ébola e a migração de África têm implicações de segurança além do continente, uma vez que todos vivem numa comunidade global.

"Se algo acontece em África, isso afecta o resto do mundo", sustentou.

Indicando ser essa a razão por que África tem de "analisar atentamente" as suas instituições de segurança, para que os próprios africanos possam lidar com estas questões e participar na formulação das políticas de segurança globais.

O 5º Fórum de Alto Nível do Tana, espaço de reflexão, terá a presença de pelo menos 150 participantes, incluindo antigos e actuais chefes de Estado e de Governo, representantes governamentais de alto nível, académicos, responsáveis da sociedade civil, peritos e legisladores da UA, da ONU e de outras instituições internacionais. Fonte: Aqui