domingo, 19 de junho de 2016

CONSTRUÇÃO DO PORTO DE BUBA DESTRÓI MAIOR RESERVA DE ÁGUA DOCE DO PAÍS E DA SUB-REGIÃO

Imagem do mapa que ilustra a zonagem do parque e area de influência do Projecto do Porto de Água Profunda do Rio Grande de Buba
Fonte: odemocratagb.com Por: António Nhaga

A construção do Porto de Águas Profundas no Rio Grande de Buba absorverá por completo os 59 mil hectares dos 89 mil hectares que compõem o Parque Natural de Lagoa de Cufada, o maior reservatório de água doce do nosso país e da sub-região. É também a última rota das Aves migratórias provenientes da Europa do Norte e o primeiro sítio de RAMSAR – levou o nosso país a reunir as condições necessárias para aderir a convenção das zonas húmidas.
A zona de concessão da construção do Porto de Águas Profundas no Rio Grande de Buba está projectada para ser num dos braços do rio que liga as aldeias de Sibidja e de Ningassi, colocando assim em grande risco ambiental as três maiores zonas de protecção integral do Parque Natural da Lagoa de Cufada, classificado como um dos maiores reservatórios de água doce e das zonas mais húmidas a nível de África e a nível mundial.
Estando no centro, a cinco quilómetros do espaço projectado para construção do Porto de Águas Profundas de Letra (L), o Parque Natural de Lagoa de Cufada será, por completo, absorvido pelas zonas da influência do Porto que causará, sem margem para dúvida, enormes danos a nível do ambiente e da biodiversidade.
A construção do Porto de Águas Profundas num dos braços do Rio Grande de Buba permite na realidade atracar barcos de grande porte que Porto da capital Bissau não reúne as melhores condições de albergar. Sabe-se que a construção dessa infra-estrutura portuária foi projectada por Amílcar Cabral, muito antes de início da luta armada da libertação nacional.
AMBIENTALISTAS: “PORTO NO RIO GRANDE BUBA ACABARÁ COM MAIOR RESERVA DE ÁGUA DOCE DO PAÍS”
Imagem do mapa que ilustra a zonagem do parque e area de influência do Projecto do Porto de Água Profunda do Rio Grande de Buba
Todavia, os ambientalistas nacionais não têm dúvidas que a construção do referido porto, como projetada, causará uma grande perturbação ambiental no Parque Natural de Lagoa de Cufada e em toda a região de Quínara, e poderá acabar com o maior reservatório da água doce do país e na sub-região e destruir ao mesmo tempo as zonas húmidas que o nosso país ainda ostenta. O Parque Natural da Lagoa de Cufada localiza-se nos perímetros da via que liga o sector de Fulacunda a partir da aldeia Buba Tumbu, passando pela pequena aldeia Marinadji (Tabanca do falecido músico Aliu Bari) onde inicia praticamente os 59 mil hectares da área protegida do Parque. Na parte esquerda está localizada uma das três zonas da protecção integral, com grande fragmentação das florestas húmidas que vai dar acesso ao rio. Com a construção do Porto haverá neste perímetro um enorme dano ambiental e de biodiversidade, de acordo com os especialistas ambientais.
A construção do porto está projectada num espaço de sete mil hectares chamada área da concessão. Porém, os estudos técnicos realizados pelos ambientalistas concluíram que não é apenas a zona da concessão, onde serão construídas as casas e infra-estruturas portuárias que será absorvida, mas também toda área de influência (impacto) estimada em 59 mil hectares do Parque Natural de Lagoa de Cufada será igualmente absorvida, com consequências ambiental e da biodiversidade.
Os estudos de impacto feitos pelos técnicos nacionais indicam que, estando os 59 mil hectares do Parque Natural de Lagoa de Cufada localizados no centro do perímetro projectado para a construção do Porto de Águas Profundas, a concretização da sua projecção absorverá as três grandes zonas da protecção integradas de Lagoa de Cufada. Os técnicos nacionais que realizaram o estudo garantem, por outro lado, que haverá um enorme dano relativamente à biodiversidade e ao meio ambiente nas três áreas das grandes zonas de protecção integral da Lagoa de Cufada.
Consideram ainda que se o governo decidir avançar com a construção a infraestrutura, isso implica que os milhões de Francos CFA que foram investidos no Parque, desde a sua fundação foram simplesmente desbaratados. Acusam, por outro lado, as autoridades nacionais de não estarem a ter em consideração os ganhos que o país conseguiu com o Parque Natural de Lagoa de Cufada, uma das maiores reservas de água doce da África e do mundo.
ESPECIALISTAS APRESENTAM PROJECTO DE PORTO DE ÁGUAS PROFUNDAS SEM PROJUDICAR PARQUE DE CUFADA
Mapa da proposta alternativa de acesso a futuro Porto de Água Profunda do Rio Grande de Buba (Espaço circulada a branco)
Mesmo assim, os técnicos nacionais não desarmam, apontam às autoridades nacionais no seu estudo uma alternativa que permitirá construir o Porto de Águas Profundas na zona do Rio Grande de Buba, sem absolver as três grandes zonas de protecção integral do Parque Natural de Lagoa de Cufada. Os técnicos nacionais concluem ainda, no seu estudo, que é possível realizar o projecto na região de Buba mudando apenas a zona de concessão e desencravar ao mesmo tempo muitas zonas nos perímetros da Lagoa de Cufada, sem consequências ambientais.
No mesmo estudo, os técnicos nacionais defendem que se realmente a construção do Porto está apenas relacionada com a questão da profundidade que não existe no Porto da capital do país, Bissau, então pode-se perfeitamente construir o Porto de Águas Profundas de Letra (L), na região de Buba, mas não na área do Parque de Lagoa de Cufada na margem direita do Rio Grande de Buba, quando se sai da cidade de Buba em direcção ao canal de Bolama, mas sim que se faça na margem esquerda, ou seja no Sul da cidade de Buba fora do alcance do perímetro de três grandes zonas de protecção integral do Parque. Feito na zona Sul da cidade de Buba, de acordo com o estudo dos técnicos nacionais o Parque de Lagoa de Cufada terá maior espaço e a infra-estrutura ganhará ao mesmo tempo a profundidade portuária necessária para atracar barcos de grande porte, podendo proceder sem constrangimentos o transporte de bauxite e outros minérios que poderão existir na região e noutras localidades.
Por outro lado, a construção do Porto de Águas Profundas na zona Sul da cidade de Buba permitirá desencravar o sector de Empada, a mais populosa da região de Quínara, sem pôr em causa as três grandes zonas de protecção integral da Lagoa de Cufada e não haverá também nenhuma consequência ambiental ou da biodiversidade. O que seria, na visão dos técnicos nacionais, um grande ganho para o país, pois continuaria a ter o Parque Natural da Lagoa de Cufada e a realizar ao mesmo tempo o grande sonho de sempre das autoridades nacionais em ter um Porto de Águas Profundas no Rio Grande de Buba.
Ainda sem conhecimento das autoridades, o estudo feito pelos técnicos nacionais de ambiente possui maquetes de mapas de análises que permitem qualquer cidadão nacional fazer a sua leitura e construir a sua visão sobre as consequências ambiental e da biodiversidade que poderão derivar da construção do porto na cidade de Buba. Curiosamente, o referido estudo já foi várias vezes apresentado e discutido com os parceiros internacionais que intervém de forma directa ou indirectamente nos projectos ambientais no nosso país.
Os técnicos nacionais não tornaram público o seu estudo, porque gostariam, em primeiro lugar, que a empresa Bauxite Angola a proponente actual do projecto da construção infraestrutura, apresente primeiro o seu projecto real sem omitir nada. Os técnicos nacionais de ambiente garantem que estão dispostos a contrabalançar a proposta  da empresa mostrando ao público os ganhos, as incongruências e a dimensão da visibilidade dos impactos negativos da construção do Porto de Águas Profundas na região de Quinara.
Os profissionais de ambiente e da biodiversidade pretendem promover um debate profundo em torno da questão da construção do Porto de Águas Profundas no Rio Grande de Buba, cuja conclusão deverá sempre ter em consideração os ganhos dos dois projectos para o nosso país. Pretendem fazer com que a classe política e as autoridades nacionais compreendam que podemos construir o porto noutro local da região e ter os mesmos benefícios sem, todavia, prejudicar a Lagoa de Cufada.
Os técnicos ambientalistas nacionais afiançam que a informação que possuem os garantem que o Bauxite de Boé não justifica, em termos de quantidade suficiente, a construção de um Porto de Águas Profundas no Rio Grande de Buba (viabilidade financeira). Afirmam que a ideia da construção do referido porto não passa de uma estratégia da empresa Bauxite Angola que explora o mesmo mineral na vizinha República da Guiné-Conacri cujo escoamento seria a partir de um porto de águas profundas construído no Rio grande de Buba.
A empresa Bauxite Angola explora também uma das maiores reservas de Bauxite na Guiné-Conacri e pretende assim facilitar o seu escoamento num Porto de Águas Profundas mais próximo da zona da exploração do que Porto de Conacri [capital da Guiné-Conakry], cujos custos são bastantes elevados com relação ao futuro Porto de Buba.
EMPRESA BAUXITE ANGOLA PRETENDE EXPLORAR 50 ANOS O PORTO DE ÁGUAS PROFUNDAS DE BUBA DEPOIS DA CONSTRUÇÃO  
Os técnicos nacionais do ambiente dizem possuir a informação que dão conta que o porto que a empresa Bauxite Angola projecta agora construir no Rio Grande de Buba não é o mesmo projecto do sonho que Amílcar Cabral arquitectou antes da luta armada da libertação nacional, nem corresponde a uma das estratégias nacionais de desenvolvimento da região de Quínara. Porque, a empresa angolana de Bauxite projecta construir o Porto num dos braços do Rio que liga as aldeias de Sibidja e de Ningassi e uma estrada de terra-batida [na primeira fase] que ligaria minas de Bauxite de Boé ao Porto na região de Buba.
Tal como acontece no caso de Cahora Bassa, em Moçambique, em que o governo português teve que explorar durante 50 anos a barragem eléctrica de Cahora Bassa, a empresa Bauxite Angola pretende também, depois da construção do Porto, explorar a infra-estrutura durante 50 anos e possuir uma percentagem significativa da empresa construtora do Porto de Águas Profundas no Rio Grande de Buba, e o Estado guineense ficar apenas com uma reduzida percentagem do produto da sua exploração até quando cessar o contrato de exploração.
Tudo indica, neste momento, que o nosso país ficará apenas com dez por cento (10%), durante os 50 anos de exploração de Bauxite de Boé, no contrato de exploração que será celebrado. O que leva os técnicos nacionais de ambiente a questionar os ganhos do país com a construção do Porto de Águas Profundas no Rio Grande de Buba, que absorverá por completo os 59 mil hectares de Parque Natural de Lagoa de Cufada.
AMBIENTALISTAS DEFENDEM CONSTRUCÃO DE PORTO SEM PREJUDICAR ZONAS DE LAGOA DE CUFADA
Imagem do mapa que ilustra area da concessão, vias de acesso e porto proposto no Projecto do Porto de Água Profunda do Rio Grande de Buba
Contudo, os ambientalistas nacionais não pretendem impedir a  construção do Porto de Águas Profundas. Concordam com a sua construção sem consequências ambientais nas três grandes zonas de protecção integral de Lagoa de Cufada. Querem e até defendem a construção do Porto, mas sem pôr em causa os 59 mil hectares do Parque, pois este último pode desempenhar um papel chave no desenvolvimento do nosso país.
Consideram, por outro lado, que a biodiversidade ocupa um lugar central na estratégia nacional de desenvolvimento do país. Na opinião dos técnicos nacionais, as autoridades nacionais recebem apoio financeiro internacional para a conservação da nossa biodiversidade. Os ambientalistas nacionais esperam ainda poderem receber mais subsídios dos seus parceiros internacionais para poderem fazer vincular o seu estudo sobre as consequências ambientais da construção do Porto de Águas Profundas no Rio Grande de Buba, no sentido de poderem defender e salvaguardar a protecção da riqueza daquela biosfera mundial.
Pretendem, sobretudo que as autoridades nacionais compreendam que não estão agir de má-fé, pois a ideia é simplesmente de lhes mostrar e fazer-lhes também compreender que o país poderá beneficiar com a construção do Porto, sem necessariamente destruir o maior reservatório de água doce da sub-região e do mundo, cuja residência se encontra na região de Quínara, na Província Sul do país, bastião da luta armada da libertação nacional, que acolhe também a última rota das Aves migratórias provenientes da Escandinávia.
Os técnicos nacionais estão preocupados em saber qual será a posição dos especialistas da empresa angolana Bauxite Angola. Perspectivam, todavia, que os técnicos da empresa angolana não irão gostar do projecto alternativo de estudo técnico que apresentarão para construção do Porto de Águas Profundas no Rio Grande de Buba. Os gestores de Bauxite Angola não verão com os bons olhos a mudança do espaço onde tinha sido projectado a construção o porto, porquanto consideram os custos bastantes elevados em relação a zona anteriormente projectada, um dos braços do Rio Grande de Buba que liga as aldeias de Sibidja e de Ningassi.
Os especialistas nacionais de ambiente pretendem, como é óbvio, que a construção do Porto de Águas profundas no Rio Grande de Buba e do Parque Natural da Lagoa de Cufada sejam dois vectores fundamentais nas estratégias de desenvolvimento, primeiro da região de Quínara, província Sul e por fim a nível nacional. Pois, ajudará em todos os aspectos, particularmente o de desencravamento económico, social e cultural da região e da província, berço da revolução que conduziu à independência nacional.
Os técnicos nacionais consideram que se as autoridades nacionais não aceitarem o seu estudo alternativo não se sentirão frustrados. Ao invés estarão com a consciência tranquila de quem cumpriu um dever nacional para com a sua pátria. Porque tecnicamente mostraram as vantagens, os ganhos e as desvantagens advindas da construção do porto naquele local. Será da responsabilidade das autoridades nacionais tomarem a decisão de executar ou não os projectos e assumirem as consequências ambientais e a biodiversidade para o país e a sub-região.
Acreditam, todavia, que se as autoridades nacionais não aceitarem a se submeter as regras de jogo impostas pela empresa angolana Bauxite Angola, fora dos interesses ambientais do país, os próprios técnicos ambientais e os gestores da própria empresa angolana aceitarão e reconhecerão o estudo feito pelos técnicos nacionais de ambiente, como sendo plausível. Porque a nível nacional não haverá ninguém com o espírito de aceitar ser subordinado ou vender a sua consciência e o espírito da nação guineense, prejudicando toda uma economia verde que poderá e de que maneira galvanizar o nosso desenvolvimento económico, político, social e cultural a nível mundial.
Por: António Nhaga