Fonte: gbissau.com
O que se exige não é que enfeitem o país inteiro com pedras preciosas, nem ornamentá-lo com os artifícios padronizados e tampouco fazer milagres para crianças, homens e mulheres da nossa querida pátria. Mas sim, que respeitem os direitos humanos e, sobretudo, promovam um ambiente favorável para que haja a verdadeira paz, estabilidade e desenvolvimento.
Por Deuinalom Fernando Cambanco* | stduiner10@hotmail.com
Volvidos mais de quarenta (40) anos de independência, a Guiné-Bissau ainda continua nas ruínas. Passaram, na verdade, 42 anos depois de o país ter se tornado um Estado soberano e independente. Um período de tempo, em minha opinião, mais que suficiente para que os nossos políticos dessem mostras de maturidade no campo político e, sobretudo, conduzir o país para vias de desenvolvimento.
Infelizmente, já foram um pouco mais de quatro (4) décadas sem que, no seio de seus dirigentes políticos, haja um entendimento, uma unidade forte atrelada ao nacionalismo, um consenso político saudável capaz de colocar o interesse da coletividade acima de todos os outros. A Unidade Nacional, tal como almejada e postulada outrora pelo grande líder e dirigente da Luta de Libertação Nacional, Amilcar Cabral, ainda está muito aquém da expectativa!
Mais um episódio ignóbil e nocivo no cenário político nacional, um episódio de lutas políticas desnecessárias – de dissensos mais uma vez protagonizados pela “classe política”. Uma batalha política que classifico de “sem cariz” de lealdade e, tampouco, de um alto espírito de com patriotismo e responsabilidade para com a população. Uma situação que se degenerou numa grave crise política que, para mim, podia sim ser literalmente evitada e ultrapassada se houvesse entendimento sobre tais controvérsias e, se, sobretudo, reinasse um espírito estadista imbuído de valores condizentes com os anseios do povo – e de total comprometimento com as causas beneficentes à pátria.
Esses imbróglios, no meu entender, têm como base fulcral os conluios políticos cujos interesses são controlados por grupos ou partidos políticos independentes. Interesses esses que acabam criando dicotomias, suscitando ódios, intrigas, e, em grande medida, colocando em risco a estabilidade, a paz social e o bem-estar coletivo. Desta feita, fica latente em nossa memória e, mais precisamente no nosso cotidiano, que, no que concerne aos problemas internos da Guiné, só nós mesmos poderemos resolvê-los, através de uma unidade consolidada. Uma Unidade que transcenda as nossas peculiaridades, isto é, as diferenças que temos e sempre teremos.
O salutar contraditório faz parte do sistema democrático que vigora na nossa pátria, o que nos obriga, de certa forma, a aprender a lidar com o pluralismo de ideias. Neste contexto, o que está acontecendo no país não corresponde minimamente ao que acabamos de enaltecer no trecho acima e sim a um ambiente político tumultuado, onde alguns estão querendo confiscar a nossa jovem democracia, fissurar e, consequentemente, desonrar a nossa heróica conquista da independência/soberania, forjada sob uma epopéia heróica dos nossos combatentes da liberdade da pátria – o que de maneira alguma iremos aceitar. Queremos homens e mulheres cientes dos desafios que assumiram, durante as campanhas eleitorais, ter vontade e garra de enfrentar, para que possamos finalmente fazer arrancar o país rumo ao desenvolvimento.
A população já não quer mais saber de greves tanto na educação quanto na saúde, esta última que tem ceifado a vida de dezenas dos guineenses, da instabilidade política/institucional, do derrubo constante de governos, enfim, de fatores condicionantes de situações que causam angústia e mágoa ao país e à sociedade em geral. Uma população que já sofreu bastante e que aspira por dias melhores, com a vontade de vivenciar um novo tempo, novas políticas, novos projetos, enfim, novas ações. Ações essas capazes de mudar o rumo do país.
O que se exige não é que enfeitem o país inteiro com pedras preciosas, nem ornamentá-lo com os artifícios padronizados e tampouco fazer milagres para crianças, homens e mulheres da nossa querida pátria. Mas sim, que respeitem os direitos humanos e, sobretudo, promovam um ambiente favorável para que haja a verdadeira paz, estabilidade e desenvolvimento.
O desejo de todo e qualquer um que se sente como guineense é que sejam aplicados os princípios de um verdadeiro Estado de Direito Democrático – onde todos nós poderemos ter os nossos direitos garantidos e/ou assegurados, e, da mesma maneira, cumprir com os nossos deveres e obrigações. Um Estado onde a Justiça funcione e, onde, os que infligirem e/ou irem contra os princípios básicos regimentares da sociedade possam ser punidos e castigados.
Em suma, a necessidade de darmos a volta por cima e nos pautarmos pela coesão nacional é urgente! As gerações vindouras precisam muito que nós, no nosso tempo, façamos o melhor para que o amanhã deles possa ser esplêndido e risonho. Um amanhã bem melhor em que todas as crianças poderão sorrir por motivos de fartura… sorrir por nada lhes faltarem… sorrir por serem filhos com orgulho do país chamado Guiné-Bissau. Eu ainda acredito nos dias melhores para a minha querida pátria! Guiné-Bissau, nha terra, nha paixão, nha mundo, nha tudo!
Viva paz, viva fraternidade, viva esperança, viva desenvolvimento, viva unidade nacional e viva o povo guineense! Que Deus nos abençoe!
*Deuinalom Fernando Cambanco | Graduando em Ciências Humanas, pela Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), São Francisco do Conde, Bahia, Brasil.