No extremo-norte do Senegal, as areias das dunas de Lompoul já não arruínam cultivos, casas nem saúde. São agora terreno fértil de cultivo para a etnia poul, com plantações, poços e habitação segura para 10 mil pessoas. Makthar Ndiaye, o coordenador dos projetos de cooperação da ONG espanhola (basca) Solidaridad Internacional em território senegalês, resume, ao El País: «Se protegermos as dunas do vento do Oceano Atlântico, conseguiremos transformar o deserto num lugar mais habitável, e assim travar a desertificação.
Já lá vão sete anos de trabalho desta ONG no Senegal. Com diferentes projetos, conseguiu plantar 30 mil árvores ao longo de mil hectares, travando o avanço das areias e fixando as dunas. As zonas férteis de cultivo foram protegidas e gerou-se, ao longo de todo o processo, compostagem para recuperar a zona mais seca do país e o início do deserto do Sahel.
O sonho de 14 países de construir uma Grande Muralha Verde, do Senegal ao Djibouti, numa extensão de 7500 quilómetros, serviu de inspiração a Ndiaye. Hoje, 17 anos depois de ter partido nesta «aventura», diz-se orgulhoso de todo o trabalho feito – e, sete anos depois de o trabalho ter começado, os resultados começam a ser visíveis: «Conseguimos fixar as dunas, e, com elas, a população».
Nestes sete anos, mais de 200 pessoas estiveram envolvidas no projeto, com postos de trabalho diretos ou indiretos. Além da plantação de árvores, fez-se mais: iniciativas de cooperação para a conservação natural, fortalecimento da segurança alimentar e acesso a água. «Foi um processo custoso. Precisámos de viveiros, de cursos de agricultura ecológica, de maquinaria básica para a instalação de poços de regadio, de acesso a sementes e de muita formação», recorda Ndiaye, com o sorriso de quem sabe que tudo valeu a pena.
Esta «revolução verde» passou pela plantação de 30 mil árvores de fruto, que dão continuidade à fileira de árvores plantada pelo governo em 2008 – junto à costa, e desde a capital, Dakar, até San Luis, numa extensão de 130 quilómetros. «Mas depois não investiram mais», lamenta o espanhol.
As novas árvores podem parecer frágeis, mas converteram-se numa sólida barreira face ao deserto. As populações ficaram. Os terrenos são agora mais férteis, e há até mais maquinaria agrícola.
Mbaye Ka é um dos nómadas que ficaram. Fez a sua casa em cimento e nunca mais partiu. Lembra ao El País que, dantes, o deserto secava tudo. «Muitos só sonhavam chegar a Dakar ou à Europa, e deixar para sempre este deserto.» Agora, tem outro sonho: deixar aos nove filhos esta terra verde em que o deserto ali se tornou. «As minhas filhas puderam ir à escola. Com o que ganhamos com o cultivo compramos-lhes os livros e pagamos as deslocações», diz a mulher de Mbaye, Khady. «Se me tivessem dito, quando chegámos, que aqui poderia ter uma horta e um poço, nunca acreditaria».
Serignesera Sow, o chefe desta comunidade, partilha do mesmo espírito. «Já não planeio mover toda a comunidade. Ficaremos aqui.» A sua próxima meta é construir uma escola.
Nesta zona, o departamento de Kebemer, pelo menos cinco das nove povoações já receberam formação e apoio no abastecimento de água e na instalação de uma agricultura ecológica. As mulheres chegavam a ter de caminhar oito horas para encontrar água; hoje, há poços do outro lado do caminho.
Quanto à Grande Muralha Verde, hoje já não é um sonho. Conta nesta altura com mil novos hectares verdes, no início do Sahel.
Fonte: Aqui