domingo, 19 de junho de 2016

Crônica: A CLAUSURA

show do Big Brother Guiné-Bissau (BBGB) no palácio do governo.

Fonte: odemocratagb.com Por: Jorge Otinta
Difícil convencer qualquer guineense atento, mesmo o mais incauto. Mas aconteceu, eles enclausuram-se. Digo eles, porque são homens e mulheres, apoiados por suas comparsarias nos comes e bebes decidiram entrar em clausura num Convento de luxo. E que luxo, hein?
Amotinados por uma derrota de futuro, na medida em que este parece, a cada dia que passa, mais distante de se tornar num sonho realizável, esconderam-se na rebelião conventual por forma a esconderem-se de passado duvidoso.
Atitudes de reles tiveram eles? Não sei sinceramente. E também como é do meu feitio não me atrevo a avançar com qualquer teoria e/ou discurso hipotético-dedutivo, por julgar-me incapaz de o fazer.

Mesmo assim, e ainda que assim, debruço-me sobre os últimos acontecimentos que envolve homens e mulheres, outrora de fino trato social, a enveredarem-se por grandes atitudes de baixaria. E até mesmo de chungaria lamentável, algures neste pedaço de chão.
Ao mesmo tempo é deveras compreensível a incerteza que lhes espera fora dos benesses do poder. Não sabem que futuro o grupo atual, com suas astúcias vingativas, poderá fazer deles. Ou quiçá, perdendo espaço em política o que fariam como profissionais? Se, a bem da verdade, nunca terão sido profissionais altamente qualificados em suas carreiras profissionais. Nem todos eles, é claro!
Entretanto, se alguém não quisesse fazer isso nada que fosse de vergonhoso, mas antes, este alguém, recuasse discretamente, ou melhor,educadamente preservando sua vida da esfera privada distinta daquela pública – por sinal suja -, não teríamos assistido ao show de horror que, quotidianamente, passava na nossa TV e nas nossas estações de rádios e nos jornais nacionais, e até mesmo, nos internacionais.
Teríamos, ainda que dramaticamente, visto sinais de dignidade, e não de penhora dela.
Tudo parecia uma trama de comédia, só que um tanto de pitada trágica, para ser minimamente civilizado no uso do termo.
Tendo eles tramando a farsa de reivindicação que geraria um direito ausente, tinham diante de si se dado ao trabalho de um escritor, que fracassado de ideias, tenta abrigar-se na inspiração funesta.
Talvez também seja pertinente dar exemplo de um pintor que tem diante de si imagem concebida mentalmente, e ao mesmo tempo, com um quadro também ele preparado para receber a figura a pintar, e acaba por perceber que seu material, com que nele deseja trabalhar, despejando toda a sua criatividade imagética, e imaginativa, com que desenvolver sua estética de criação se transformasse, simplesmente, num desastre de uma obra-prima de arte.
E o pintor, apercebe por isso, que seu desespero de imediato, ainda que seja inegável o puro absurdo que se está a gerar, reconhece ele,analisando todos os lados do problema com que então se depara, revelando-se impotente, até mesmo insuficiente em traduzir no quadro seu pensamento, e este ainda revela – para a sua tristeza – a ausência do sentimento que, ao que tudo indica, emperra todo o ato da criação artística.
E só então o ato de escrever e/ou o de pintar torna-se mais difícil esolitário, mais sem sentido para ele e para seus admiradores.
Às vezes, fico pensando no gesto cínico de generosidade social, não obstante parece que ele preenche alguma lacuna na alma. São apenas confissões minhas. Não me levem a mal.
É meu ofício escrever para construir almas.
Um escritor é um engenheiro de almas.
Dá vidas às pessoas e às coisas.
Por isso ele é sempre original porque não compreendido, mal interpretado, muitas das vezes… e perde até vaga de membro de governo por isso…
Falta na nossa pátria padrasta – desculpem-me o neologismo perigoso – veicular altos valores, valores éticos elevados, lições de moral sem moralismos baratos. Ora, é isso que me desespera. Parece que estou tal como muitos cidadãos deste país amarrado à corrente.
É, assim, que a literatura me torna num cidadão obstinado, certo de que a ratio da minha existência, neste ofício de cronicar e escrever ensaisticamente, está em mim mesmo. Não posso parar de escrever. As ideias cutucam-me; pedem-me para sair. Querem ganhar asas e voar pelo espaço, pelos confins do mundo, enfim.
Trata.se, sem sombra de dúvidas, e para dúvidas também, dum ato do consciente, mas simultaneamente do inconsciente, dependendo, do caso a acaso, de uma dose de crença ou de dúvida que se apodera de mim.
O certo (e talvez o errado) é o fato de ter descoberto tal coisa que sibila, assobia, gagueja, hesita, no meu ser, e deixa-me, quase sempre,perplexo com a nossa história menina cheia de cretinices e chatices inúteis.
Assim, os acertos e os desacertos se transformam em acidente fatal em relação à crença no futuro. Pois, as doenças, as crises, estão à espreita.
As prováveis fraudes ideológicas aliadas às suas intervenções de cérebro artificiais deixam nossa vida mais constrangedora perante o mundo.
Que ninguém afrouxe o parafuso para que as ideias não saiam fora do fuso.
E os intelectuais porque continuam em silêncio infernal? Preferem que continuemos a levar a vida de moribundos?
Esta praga de barrigada estará ela a esconder a verdade: o medo do passado ou o do futuro? Porque o presente sabe-se problemático.
Uma piada sensacional, esta de clausura, do exílio forçado.
A seguir mais uma história para o deleite do leitor:
Ela é consciente de suas malfeitorias assassinas. Mas como o corpo não aguentou no Convento deu para outro ministro demissionário. Sentiu-o fundo como nunca tivesse sentido um homem. Este, por sua vez, tantos dias no exílio precisava de dar a descarga, que não aguentava ficar mais longe da esposa e dos filhos. Mais daquela do que destes.
Entretanto, gemeram de prazer como se pela primeira vez estivessem a sentir um orgasmo avassalador. Isso provocou desejo nuns, e comentários maldosos, noutros.
Olhando um nos olhos do outro, viram-se diante do novo paradigma do amor. Mas como farão se todos eles são casados, e somente o acaso desta desgovernança em que se meteram é que lhes criou todo este imbróglio?
Depois do prazer, esqueceram-se das velhas tarefas governamentais, das sempre difíceis decisões que tomavam em seu gabinete, deveres, do conflito, ou crise, como diz o vulgo, que está aí, e que precisa de ser dirimido.
E não obstante terem descoberto – como dois adolescentes em plena flor de idade – uma explosão de alegria. Levantaram-se, à vista dos companheiros da barrigada brindaram-se à saúde, mas principalmente ao amor carnal. Pelo menos isso, não é?
Pode até ser uma imagem masculina muito radiante, mas ela enlouqueceu-se de prazer. Jorrou-lhe a coisa do íntimo de si que esquecera o marido e os filhos, ao afazeres de ministra, de mulher pública de reputação duvidosa – tal como os do piquenique da vergonha nacional que se internacionalizou-se neste show do Big Brother Guiné-Bissau (BBGB).
Caro leitor d’O Democrata, até a próxima, que o cronista precisa dormir para tentar esquecer o desassossego pátrio lá no nosso chão. Pois aqui em Abidjan estou em orgasmo intelectual.
Por: Jorge Otinta