A base aérea russa de Hmeimim e a base naval de Tartus, na Síria, foram atacadas simultaneamente por drones no sábado passado. O avançado sistema de defesa aérea russo frustrou o ataque. Uma onda de 13 drones foi utilizada e, de modo interessante, três deles foram descidos intactos.
Depois de 48 horas de análise cuidadosa do incidente, na 2ª feira o Ministério da Defesa russo em Moscovo publicou ma declaração:
Depois de 48 horas de análise cuidadosa do incidente, na 2ª feira o Ministério da Defesa russo em Moscovo publicou ma declaração:
Durante horas noturnas instalações de defesa aérea russa verificaram que 13 desconhecidos alvos aéreos de pequena dimensão aproximavam-se de activos militares russos. Dez UAVs (unmanned aerial vehicle), estavam a aproximar-se da base aérea de Hmeymin e outros três do centro logístico de Tartus.
As soluções de engenharia utilizadas pelos terroristas no ataque às instalações russas na Síria só podiam provir de um país com alto potencial tecnológico para providenciar navegação por satélite e controle de fogo à distância dos dispositivos explosivos montados com competência. ( TASS )
Os países com tal "alto potencial tecnológico" e capacidade para "navegação por satélite e controle à distância" que estão envolvidos na guerra por procuração (proxy) na Síria são apenas dois – os Estados Unidos e Israel. Faça a sua escolha. No meu entender, é improvável que Israel, apesar das suas bravatas, ousasse atacar a Rússia.
Em suma, houve um vingativo ataque americano a "activos" russos no Dia de Natal da Igreja Ortodoxa Russa. A declaração em Moscovo foi após a avaliação de três drones que foram capturados. O seu tom razoavelmente explícito é destinado aos sujeitos no Pentágono. Naturalmente, o Pentágono por sua própria iniciativa (suo moto) saiu-se com uma declaração antecipativa a desviar a culpa para rebeldes sírios. Trata-se de um acto de negação plausível, uma vez que há grupos rebeldes a operarem no norte da Síria. Mas eles são filiados à Al-Qaeda, os quais são proxies americanos e israelenses. A RT tem uma réplica irónica, aqui , à ressalva do Pentágono.
Por que os EUA estão a contestar as bases russas na Síria? A questão é que estas bases russas estão localizadas na província de Latakia junto à costa do Mediterrâneo. E o objectivo dos militares estado-unidenses é ganhar acesso à costa mediterrânea para o enclave do Curdistão que está a criar na Síria sem que o mesmo enclave fique cercado de terra e dependente criticamente de rotas de abastecimento via Turquia ou Iraque, além de ser economicamente inviável (embora seja uma região da Síria rica em petróleo).
O diário Asharq Al-Awsat do establishment saudita informou na 2ª feira que a administração Trump está a planear conceder reconhecimento diplomático ao enclave do Curdistão no norte da Síria (o qual é do tamanho do Líbano). A ideia é criar uma cabeça de ponte permanente para os EUA e Israel num estratégico Curdistão independente economicamente auto-suficiente onde se encontram as fronteiras da Turquia, Iraque e Síria – e que podem finalmente alcançar a fronteira ocidental do Irão com o norte do Iraque.
Mas a estratégia dos EUA-Israel permanecerá um sonho fantástico se o Curdistão ficar trancado e continuar a ser desafiado pela Turquia, Irão, Iraque e Síria. Daí a criticalidade de criar uma rota de acesso para o Mediterrâneo via província da Latakia.
A Rússia e a Turquia entendem as intenções dos EUA perfeitamente bem. Isso explica seu mais recente movimento para limpar os grupos filiados à Al-Qaeda que estão escondidos na província de Idlib adjacente à de Latakia. As forças do governo sírio e da sua milícia aliada com apoio aéreo russo estão a avançar em Idlib numa operação que começou na semana passada. Idlib é uma província razoavelmente grande e é necessário algum combate prolongado para vencer estes grupos al-Qaeda. No domingo, forças governamentais sírias capturaram uma cidade estratégica, Sinjar, o que as traz a um raio de 20 km da vasta base aérea de Abu Zuhor em Idlib. A propósito, a auto-estrada que liga Damasco a Alepo também passa através de Idlib oriental.
A Turquia está a cooperar com a Rússia na limpeza de Idlib dos grupos al-Qaeda (Idlib faz fronteira com a Turquia). Na verdade, a Turquia opõe-se firmemente aos esforços dos EUA para criar um Curdistão no norte da Síria. Na semana passada, o presidente Recep Erdogan ameaçou abertamente que Washington "nunca será capaz de transformar o norte da Síria num corredor do terror", prometendo "atingi-los (aos EUA) muito duramente. Eles deveriam saber que estamos determinados quanto a isto. Áreas que eles consideram como parte do corredor do terror poderiam transformar-se nas suas sepulturas".
É concebível que as recentes tentativas dos EUA e Israel para provocar perturbações dentro do Irão estejam ligadas a tudo isto. O plano de jogo estado-unidense-israelense é deixar o Irão afundado em questões internas. Os governos sírio e iraquiano estão dependentes do Irão e do Hezbollah para aguentar o peso da guerra contra os grupos al-Qaeda e ISIS apoiados pelos EUA.
Teerão entende a estratégia dos EUA-Israel. O regime iraniano é altamente experiente em derrotar as operações encobertas dos EUA e Israel. O líder supremo Ali Khamenei entende que o conflito sírio é também uma batalha existencial para o Irão. Os comandantes dos Corpos de Guardas Revolucionários Islâmicos estão conscientes de que a opção é entre combater os proxies dos EUA-Israel na Síria e no Iraque ou combate-los sobre o solo iraniano.
Como reagirá Moscovo ao ataque com drones apoiado pelos EUA às suas bases? Uma solução permanente consiste em retaliar contra as forças americanas e infligir-lhes baixas pesadas – como em Beirute em 1983. Se umas poucas dúzias de sacos de corpos americanos chegarem a Washington vindos da Síria, o presidente Trump certamente dirá: "Já basta, rapazes, voltem para casa".
Mas o problema é que os EUA estão a combater uma "guerra híbrida", embutida dentro da milícia curda e não podem ser alvejados facilmente. O Pentágono também inseriu "empreiteiros" (mercenários americanos) de modo q que o risco político seja minimizado.
Portanto, a opção da Rússia será intensificar as operações para limpar a província de Idlib de uma vez para sempre dos grupos al-Qaeda apoiados pelos EUA e Israel. Na verdade, Nikki Haley começará a uivar na ONU sob instruções israelenses a alegar "crimes de guerra".
Naturalmente, como dizem, na guerra e no amor vale tudo e há também uma outra opção aberta aos russos ou iranianos – equipar os Taliban afegões com drones. Mas é improvável que cheguem a ir tão longe – pelo menos por agora.
Em suma, houve um vingativo ataque americano a "activos" russos no Dia de Natal da Igreja Ortodoxa Russa. A declaração em Moscovo foi após a avaliação de três drones que foram capturados. O seu tom razoavelmente explícito é destinado aos sujeitos no Pentágono. Naturalmente, o Pentágono por sua própria iniciativa (suo moto) saiu-se com uma declaração antecipativa a desviar a culpa para rebeldes sírios. Trata-se de um acto de negação plausível, uma vez que há grupos rebeldes a operarem no norte da Síria. Mas eles são filiados à Al-Qaeda, os quais são proxies americanos e israelenses. A RT tem uma réplica irónica, aqui , à ressalva do Pentágono.
Por que os EUA estão a contestar as bases russas na Síria? A questão é que estas bases russas estão localizadas na província de Latakia junto à costa do Mediterrâneo. E o objectivo dos militares estado-unidenses é ganhar acesso à costa mediterrânea para o enclave do Curdistão que está a criar na Síria sem que o mesmo enclave fique cercado de terra e dependente criticamente de rotas de abastecimento via Turquia ou Iraque, além de ser economicamente inviável (embora seja uma região da Síria rica em petróleo).
O diário Asharq Al-Awsat do establishment saudita informou na 2ª feira que a administração Trump está a planear conceder reconhecimento diplomático ao enclave do Curdistão no norte da Síria (o qual é do tamanho do Líbano). A ideia é criar uma cabeça de ponte permanente para os EUA e Israel num estratégico Curdistão independente economicamente auto-suficiente onde se encontram as fronteiras da Turquia, Iraque e Síria – e que podem finalmente alcançar a fronteira ocidental do Irão com o norte do Iraque.
Mas a estratégia dos EUA-Israel permanecerá um sonho fantástico se o Curdistão ficar trancado e continuar a ser desafiado pela Turquia, Irão, Iraque e Síria. Daí a criticalidade de criar uma rota de acesso para o Mediterrâneo via província da Latakia.
A Rússia e a Turquia entendem as intenções dos EUA perfeitamente bem. Isso explica seu mais recente movimento para limpar os grupos filiados à Al-Qaeda que estão escondidos na província de Idlib adjacente à de Latakia. As forças do governo sírio e da sua milícia aliada com apoio aéreo russo estão a avançar em Idlib numa operação que começou na semana passada. Idlib é uma província razoavelmente grande e é necessário algum combate prolongado para vencer estes grupos al-Qaeda. No domingo, forças governamentais sírias capturaram uma cidade estratégica, Sinjar, o que as traz a um raio de 20 km da vasta base aérea de Abu Zuhor em Idlib. A propósito, a auto-estrada que liga Damasco a Alepo também passa através de Idlib oriental.
A Turquia está a cooperar com a Rússia na limpeza de Idlib dos grupos al-Qaeda (Idlib faz fronteira com a Turquia). Na verdade, a Turquia opõe-se firmemente aos esforços dos EUA para criar um Curdistão no norte da Síria. Na semana passada, o presidente Recep Erdogan ameaçou abertamente que Washington "nunca será capaz de transformar o norte da Síria num corredor do terror", prometendo "atingi-los (aos EUA) muito duramente. Eles deveriam saber que estamos determinados quanto a isto. Áreas que eles consideram como parte do corredor do terror poderiam transformar-se nas suas sepulturas".
É concebível que as recentes tentativas dos EUA e Israel para provocar perturbações dentro do Irão estejam ligadas a tudo isto. O plano de jogo estado-unidense-israelense é deixar o Irão afundado em questões internas. Os governos sírio e iraquiano estão dependentes do Irão e do Hezbollah para aguentar o peso da guerra contra os grupos al-Qaeda e ISIS apoiados pelos EUA.
Teerão entende a estratégia dos EUA-Israel. O regime iraniano é altamente experiente em derrotar as operações encobertas dos EUA e Israel. O líder supremo Ali Khamenei entende que o conflito sírio é também uma batalha existencial para o Irão. Os comandantes dos Corpos de Guardas Revolucionários Islâmicos estão conscientes de que a opção é entre combater os proxies dos EUA-Israel na Síria e no Iraque ou combate-los sobre o solo iraniano.
Como reagirá Moscovo ao ataque com drones apoiado pelos EUA às suas bases? Uma solução permanente consiste em retaliar contra as forças americanas e infligir-lhes baixas pesadas – como em Beirute em 1983. Se umas poucas dúzias de sacos de corpos americanos chegarem a Washington vindos da Síria, o presidente Trump certamente dirá: "Já basta, rapazes, voltem para casa".
Mas o problema é que os EUA estão a combater uma "guerra híbrida", embutida dentro da milícia curda e não podem ser alvejados facilmente. O Pentágono também inseriu "empreiteiros" (mercenários americanos) de modo q que o risco político seja minimizado.
Portanto, a opção da Rússia será intensificar as operações para limpar a província de Idlib de uma vez para sempre dos grupos al-Qaeda apoiados pelos EUA e Israel. Na verdade, Nikki Haley começará a uivar na ONU sob instruções israelenses a alegar "crimes de guerra".
Naturalmente, como dizem, na guerra e no amor vale tudo e há também uma outra opção aberta aos russos ou iranianos – equipar os Taliban afegões com drones. Mas é improvável que cheguem a ir tão longe – pelo menos por agora.
09/Janeiro/2018
[*] Analista político, antigo diplomata indiano.
O original encontra-se em blogs.rediff.com/mkbhadrakumar/2018/01/09/us-israel-step-up-hybrid-war-in-syria/
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
O original encontra-se em blogs.rediff.com/mkbhadrakumar/2018/01/09/us-israel-step-up-hybrid-war-in-syria/
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
http://resistir.info/russia/bhadrakumar_09jan18.HTML
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Primeiros ataques de drones simultâneos num campo de batalha
Pela primeira vez num campo de batalha, drones foram utilizados em formação de enxame. Mesmo que este ataque tenha falhado, ele modifica drasticamente as tácticas de combate.
Desde há onze anos, os peritos militares debatem a maneira de coordenar drones para atacar em formação de enxame. Sabe-se que o Irão e sobretudo a China dominam essa técnica [1]. É provável que outros Estados, entre os quais Israel, os Estados Unidos, a Rússia e o Canadá, a dominem igualmente.
Na noite de 6 de Janeiro de 2018, drones atacaram as bases militares russas de Tartous e Hmeimim. Três contra a base da marinha e 10 contra a base aérea.
Estes ataques não tem relação com os ataques de morteiro de 31 de Dezembro de 2017, que provocaram 2 mortos e 10 feridos em Hmeimim.
Durante o ataque de drones não identificados, quatro drones de observação da Marinha dos EUA seguiram as reações russas.
No conjunto de treze aparelhos desta operação, o exército russo derrubou sete drones e forçou os outros seis a aterrar (aterrissar-br). Três outros foram recuperados intactos.
O estudo de drones capturados permitiu estabeleceu que estas máquinas, com uma capacidade de vôo de cerca de 100 quilómetros, se deslocavam a cerca de 50 km/h e eram coordenados por satélite, com meios analógicos e não digitais. Eles carregavam obuses artesanais destinados a destruir navios ancorados e aviões no solo.
Além disso, tratava-se de material muito simples, já utilizado no campo de batalha no Iraque e na Síria. A novidade vem da sua utilização coordenada por satélite.
O exército russo prossegue as suas investigações, nomeadamente para determinar que satélite foi utilizado e qual o Estado proprietário do mesmo. Segundo o jornal Kommersant, a hipótese mais provável é que estes drones foram armados por jiadistas do grupo Ahrar al-Sham.
O Ahrar al-Sham foi criado pelos Irmãos Muçulmanos egípcios antes da guerra contra a Síria. Ele inclui vários companheiros de Osama Bin Laden. O seu «ministro dos Negócios Estrangeiros», Labib al-Nahhas, é um oficial britânico do MI6 no activo. No fim de 2016, o Ahrar al-Sham tinha assinado um acordo com a Rússia aceitando «zonas de distensão»; acordo que não respeitou.
O porta-voz do Pentágono, Adrian Rankin-Galloway, declarou à agência RIA Novosti que os drones utilizados para atacar as instalações militares russas na Síria eram «facilmente acessíveis» no mercado. No entanto, o Ministério Russo da Defesa garantiu que estes drones tinham sido montados na Síria por especialistas e que, acima de tudo, eles eram dirigidos por satélite.
Por outro lado, o Pentágono admitiu ter utilizado, pela primeira vez, drones de reconhecimento da Global Hawks na linha de demarcação do Donbass, nos dias 1 e 7 de Janeiro, quer dizer, no dia a seguir aos dois ataques na Síria.
Se esta tecnologia falhou no campo de batalha face ao exército russo, que dispõe de armas antiaéreas das mais potentes do mundo (Pantsir-S1) e de um sistema de empastelamento do comando da OTAN, ela poderia, no entanto, ser bem sucedida num outro ambiente.
Segundo o Izvestia , o Ministério da Defesa da Rússia e o FSB estudam a criação de unidades especiais de luta contra os drones. Desde logo, o exército russo dotou-se de uma unidade especializada na defesa de alvos fixos visados por drones, foguetes simples, mísseis de cruzeiro, sistemas de armas de precisão, aviões tácticos e helicópteros de ataque.
Ao transferir os drones para um grupo terrorista, os Anglo-Saxões, mesmo que conservem a coordenação por satélite, anunciam uma mudança radical no domínio da Segurança e da Defesa.
Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: Sous nos yeux. Du 11-Septembre à Donald Trump. Outra obras : L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación (Monte Ávila Editores, 2008).
Tradução Alva