Sargentos defendem que é preciso resgatar Portugal, país "de
joelhos perante uma potência estrangeira"
No dia 31 de Janeiro de 1891, um grupo de militares protagonizou um
levantamento revolucionário no Porto - que falhou, mas ficou para a história
como a primeira grande tentativa republicana de derrubar o poder instalado.
Mais de 120 anos depois, a Associação Nacional de Sargentos (ANS) diz que o
país "está de joelhos perante uma potência estrangeira" e que por
isso é "urgente recuperar o exemplo dos heróis" do 31 de Janeiro.
Numa nota enviada aos jornalistas, a ANS acusa Cavaco Silva - que
optou por não pedir a fiscalização preventiva do Orçamento do Estado de 2014 -
de "dar cobertura à eventual inconstitucionalidade" de algumas
medidas e de preferir "dar satisfação às entidades estrangeiras que continuam
a exigir a perda da nossa soberania, em detrimento da qualidade das condições
de vida dos cidadãos portugueses". A ANS acrescenta, no entanto, que nada
está perdido e garante que vai apelar ao Tribunal Constitucional, ao provedor
da Justiça e "a todas as entidades e instâncias possíveis" que podem
"defender os portugueses".
REPETIR O 31 DE JANEIRO A ANS vai mais longe e pede aos
cerca de 9 mil sargentos que se juntem "activamente" no Dia Nacional
do Sargento - que se assinala no próximo dia 31 de Janeiro -, recuperando
"o exemplo dos heróis do 31 de Janeiro de 1891".
Ao i , o presidente da associação, António Lima
Coelho, sublinha que existe um "paralelismo muito grande" entre o
ambiente que se vivia em Portugal em 1891 e o actual. E explica porquê: "Em
1891, o país estava de joelhos perante potências estrangeiras, havia uma
alternância de poder podre e a maioria das pessoas vivia na miséria.
Percebia-se que monarquia já era solução. Hoje a situação do país é em tudo
idêntica", garante o representante dos sargentos.
Por isso, os cerca de 9 mil sargentos vão juntar-se, em Janeiro, para
definir medidas de luta. E, admite o presidente da ANS, não está descartada a
possibilidade de os militares saírem para as ruas em protesto. "É uma
hipótese que não está posta de parte", diz Lima Coelho. Seja qual for o
caminho escolhido, os militares prometem endurecer o discurso. "Estamos a
falar de uma afirmação de posição, com muita força, para que o governo perceba
que há outros caminhos que não o empobrecimento", promete o presidente.
"O que os governantes dizem que é bom para Portugal não pode ser mau para
os portugueses, porque os portugueses são Portugal", remata.
Não é a primeira vez que os militares ameaçam protestar contra as
medidas de austeridade. No último ano, sucederam- -se avisos por parte das
várias associações do sector. Lima Coelho chegou a avisar o governo, no final
do ano passado, de que os militares estarão sempre do lado da população.
"Que ninguém ouse pensar que as Forças Armadas poderão ser usadas na
repressão à convulsão social que estas medidas poderão provocar", afirmou.
A posição é corroborada pelo representante dos oficiais das Forças Armadas, que
avisou que, se os portugueses saíssem à rua, os militares não exerceriam
"qualquer tipo de repressão". O descontentamento nas Forças Armadas
subiu de tom nos últimos dias por causa da extinção do fundo de pensões - que
entrou em vigor ontem e que a Associação de Oficiais já descreveu publicamente
como uma medida que "humilha" os militares.