O regime segregacionista do “Apartheid” não vigorou apenas na Africa do Sul. O isolamento de pessoas e grupos em função da sua condição social, cultural, etc., vigorou nas antigas colónias portuguesas de África. O “Estatuto do Indigenato” era o instrumento jurídico, da política colonial portuguesa, que definia os deveres dos povos indígenas (pessoas e grupos com identidade étnica local) das províncias da Guiné, Angola e Moçambique, aprovado pelo Decreto-Lei de 20 de Maio de 1954 e abolido, seis anos depois, em 1961, por Adriano Moreira, então Ministro do Ultramar. Os povos autóctones não tinham direitos, apenas deveres que miravam a “assimilação” dos indivíduos e povos indígenas na cultura colonial portuguesa.
Havia três grupos populacionais distintos: os indígenas, os mestiços e os brancos. Os indígenas não eram portugueses. Para passar ao adro e entrar no templo e obter a nacionalidade portuguesa, era necessário demonstrar que sabia ler e escrever, vestir, professar a religião dos colonos e manter os padrões de vida e costumes semelhantes ao dos tugas.
Ora, passados mais de oito décadas, mesmo com a abolição desses princípios, a falta de instrução contribuiu para o ressurgimento do sentimento de exclusão do outro. Ainda vigora em mentes perversas a divisão colonial entre indígenas e civilizados. O cheiro a lúcifer do passado colonial ressurgiu na boca da ex-Ministra Adiatu Nandigna, que num comício em Bissau e com boina à Che Guevara, apelidou de “santchus” (macacos) aos nossos militares. A expressão “santchus” é recorrente, hoje em dia, no meio guineense, sobretudo em discussões políticas, como quem posicionasse assim passaria, automaticamente, para o lado dos ditos “civilizados”. Outras vezes, até parecem jogadas de antecipação, esquecendo-se que - a olho dos tugas - estamos todos no mesmo saco. São perjúrios dos seguidores de Cadogo Jr.. A exclusão social em função de certa pertença colonial, ganhou vigor no seu regime e serviu, inclusivamente, de fundamento ideológica para reforma no setor da defesa e segurança. A missão angolana ao pisar o território nacional, apenas conhecia um termo na língua local: “balantas”. O projeto visava criar milícias étnicas e urbanas. Estes últimos compostos por angolanos que serviriam de guarda pretoriana dos governantes.
Eh! Se a ignorância mata…
ANÓNIMO
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Foi a frase utilizada por Kumba Yala, ontem, dia 1 de Janeiro de 2014, na conferencia de imprensa onde declarou a sua renuncia “irrevogável” da “política ativa” . Diria que foi uma decisão tomada de livre e espontânea vontade. Atitude digna de um homem virtuoso, democrático e culto. Lutou pela implantação e a emancipação da democracia no país, contra o monopólio político do PAIGC. Denunciou a corrupção e combateu com frontalidade a prepotência politica e o culto de personalidade de certas figuras políticas, tais como Nino Vieira, Ansumane Mané e Carlos Gomes Júnior.
Para que fique claro, disse: “Agora que me despeço não da política, mas de disputas e mandatos de cargos eleitorais, realço que não é necessário, que não é preciso, ter cargos para exercer a cidadania ativa”. E para sustentar a sua decisão, recordou o Velho Testamento, dizendo: “O rei Salomão dizia no velho testamento que há tempo para tudo na vida terrena de um homem. Há tempo para nascer e há tempo para morrer. Há tempo para odiar, tempo para amar, tempo para parar a Guerra”.
ANÓNIMO