Bissau, 19 fev (Lusa) - O representante
das Nações Unidas na Guiné-Bissau, José Ramos-Horta, afirmou hoje ter esperança
nas novas lideranças que se perfilam no país, mas alertou: os próximos
responsáveis devem ser cooperantes e não antagónicos.
Ramos-Horta falava aos jornalistas à
margem de uma conferência promovida por um grupo de cidadãos guineenses
agrupados na "Plataforma Guiné Mindjor (Guiné Melhor)" na qual foi
discutido o perfil das lideranças políticas face aos desafios da reconstrução
do país.
O representante da ONU, um dos oradores
da conferência, afirmou que, pelas indicações que tem recebido dos candidatos
que se perfilam para as eleições gerais (que devem ter lugar ainda este ano),
"há boas perspetivas" para a Guiné-Bissau.
"Os candidatos que se têm perfilado
à nossa frente são pessoas altamente qualificadas da nova geração, na casa dos
40, 50 anos, com energia" e sem demasiadas ligações às querelas
históricas, disse Ramos-Horta.
Com a realização do congresso do PAIGC,
partido histórico e o mais votado na Assembleia Nacional Popular, Ramos-Horta
diz ter ficado "ainda mais otimista" em relação ao futuro da
Guiné-Bissau.
Aquela força política elegeu Domingos
Simões Pereira, de 50 anos, como presidente e candidato a primeiro-ministro.
Contudo, o representante da ONU chama a
atenção aos futuros líderes do executivo do país, ao Presidente da República e
ao primeiro-ministro, sobre a necessidade de haver um entendimento entre todos
para levar avante "as reformas absolutamente inadiáveis".
Valendo-se da sua experiência enquanto
ex-chefe de Estado de Timor-Leste, Ramos-Horta aconselha o futuro Presidente
guineense a ser "um árbitro, um moderador" em vez de adversário do
primeiro-ministro.
"É claro que (o Presidente) pode
chamar a atenção, corrigir o rumo", mas se tiver que o fazer Ramos-Horta
recomenda que o faça "dentro de quatro paredes", sem sair
"publicamente a criticar o Governo", enfatizou.
"O Presidente da República não é o
Procurador-Geral da Republica, nem deputado, nem juiz, é um conciliador",
lembrou Ramos-Horta, destacando as caraterísticas que o próximo chefe do
Governo deve possuir.
"O primeiro-ministro deve ser um
condutor de homens, um gestor altamente qualificado que saiba reunir uma
equipa", observou Ramos-Horta, frisando existir pessoas com capacidade
para a tarefa na Guiné-Bissau.
O politólogo guineense Rui Landim, outro
dos participantes na conferência, concordou com a observação do representante
da ONU, mas disse que as novas lideranças podem acabar por "entrar na engrenagem
do sistema complicado que é a política" guineense e "ficar sem
capacidade" de promover as reformas.
Rui Landim disse ser
"fundamental" que a nova liderança do país promova "a reforma, a
refundação das bases do Estado" e ter em atenção as preocupações dos
jovens que, alertou, começam a dar sinais de insatisfação.
"Há riscos de os jovens se
rebelaram contra a República. É um risco iminente. Não digo que seja daqui a um
mês, um ano, dois anos, mas com o andar das coisas, como elas estão agora, há esse
risco na Guiné-Bissau", sublinhou Landim. Lusa