O politólogo português Raul Braga Pires considerou hoje que o recém-eleito presidente do PAIGC tem boas possibilidades de se tornar primeiro-ministro nas eleições de abril na Guiné-Bissau, considerando a sua liderança partidária como algo muito positivo para o país.
"Sim. Penso que sim [que o candidato do PAIGC] tem boas possibilidades ser eleito primeiro-ministro", disse à Lusa Braga Pires.
"A Guiné-Bissau é um bocadinho como Portugal neste sentido, já que qualquer líder do PS ou do PSD (comparando os partidos portugueses ao PAIGC) é automaticamente um potencial primeiro-ministro", declarou.
Braga Pires, também professor da Universidade
de Rabat, considerou que a escolha de Domingos Simões Pereira para a
presidência do PAIGC "foi positiva e, neste momento, não poderia haver um
sinal mais positivo".
Braga Pires indicou que o presidente do PAIGC é
da "nova geração" do partido e "projeta, credibiliza mais a
Guiné-Bissau em termos internacionais e é isso que o país precisa neste
momento".
Simões Pereira, segundo o politólogo, é
"um tipo que vem de fora, que foi secretário executivo da CPLP (Comunidade
dos Países de Língua Portuguesa), com excelentes contactos ao nível
internacional (...), é um intelectual".
"Parece-me que o problema neste
momento, no seio do PAIGC, no seio da instituição militar e, no fundo, no seio
da Guiné-Bissau é a fome, literalmente", disse.
"Se esta fome for colmatada, depois
as coisas passam a ser mais tranquilas, mais geríveis, mas isto não acontece da
noite para o dia", afirmou o investigador correspondente do Observatório
Político em Marrocos e doutorando no Instituto Superior de Ciências Sociais e
Políticas (ISCSP).
Braga Pires indicou que o problema das
chefias militares no país e o seu envolvimento com o narcotráfico pode ser
perigoso para os chefes executivos do país.
O antigo almirante e ex-chefe do
Estado-Maior da Marinha guineense, Bubo Na Tchuto, foi preso em 2013 pela Força
Administrativa de Narcóticos (DEA, em inglês) dos Estados Unidos pelo seu
envolvimento com o narcotráfico que passa pelo continente africano com destino
à Europa.
Outros líderes militares guineenses são
acusados pelos Estados Unidos de estarem envolvidos no tráfico de drogas e
muitos chefes do Executivo também foram acusados deste crime.
"Há de se ter agora luvas de veludo
para gerir esta situação (das chefias das forças armadas). Parece-me que é
preciso compensar de alguma forma os militares que fizeram a guerra de
independência, compensar os militares que estejam na reserva e fizeram a guerra
civil", opinou.
Braga Pires acredita que Simões Pereira
"tem os contactos internacionais necessários" para angariar o
dinheiro que é preciso e passar à reforma várias pessoas que estão nas
lideranças militares, mesmo porque há uma nova geração de militares que não
estão de acordo com "o que ocorre à nível das chefias militares".
"Tudo está dependente, não apenas
da Guiné-Bissau, mas também de todo o enquadramento regional (...) sobretudo no
Mali (com o novo governo eleito depois do golpe de 2012) e na Argélia (eleição
presidencial em abril)", adiantou, sobretudo porque estes dois Estados,
entre várias nações africanas, estão envolvidos também no narcotráfico para a
Europa.
"Ele (Simões Pereira) está, neste
momento, numa situação muito inconfortável, muito insegura, muito ingrata, mas
é a situação que existe na Guiné-Bissau, e deste ponto de vista, tem mostrado
coragem suficiente para assumir este papel", afirmou.
Braga Pires referiu que "a CPLP
poderá ter um forte pendor no futuro da Guiné-Bissau, por via desta eleição de
Simões Pereira no PAIGC, e isso também poderá significar que haverá um regresso
dos angolanos ao país, não ao nível militar, mas ao nível comercial".
O professor da Universidade de Rabat
afirmou que, depois de militares angolanos num projeto de cooperação serem
expulsos do país após o golpe militar de 2012, a Guiné-Bissau quer agora
renegociar os contratos de concessão da exploração de bauxite em território
guineense já existentes com Angola.