Bissau, 25 fev (Lusa) - O escritor e
músico guineense Ernesto Dabó acredita que o debate político no PAIGC, partido
maioritário, e na Guiné-Bissau, pode estar à beira de evoluir graças a uma
geração mais bem preparada de intervenientes.
Em declarações à Lusa, Dabó antevê uma
"nova transição, desta vez de paradigmas de governação, em que há uma
progressão em termos geracionais nos aparelhos partidários, com perspetivas de
acontecer também no Estado".
"Acredito que o debate pode ter um
outro nível e poderá ter uma maior sofisticação, pois os atores são outros, com
melhor preparação do que, por exemplo, na minha geração", referiu o
artista de 74 anos.
Ernesto Dabó falava no final da
apresentação do livro "PAIGC, da maioria qualificada à crise
qualificada" que decorreu na noite de segunda-feira, no Centro Cultural
Brasileiro, em Bissau.
O país vive um período de transição, com
um governo e presidente nomeados após o golpe de Estado militar de 12 de abril
de 2012, sendo que as eleições gerais já estiveram marcadas por três vezes -
agora estão agendadas para 13 de abril de 2014.
Ao longo de 40 páginas, um dos artistas
mais conhecidos da Guiné-Bissau (apesar de ser jurista) debruça-se sobre a
política e faz uma visita guiada pelo seu Partido Africano da Independência da
Guiné e Cabo Verde (PAIGC), no qual assumiu vários cargos e foi um militante
ativo em diferentes momentos.
Apesar de retratar uma história de 1980
até ao presente recheada de instabilidade, com assassínios políticos, golpes de
Estado e impunidade nas páginas mais negras, o autor acredita na mudança.
"O PAIGC ainda é o partido com
maior experiência e com conteúdo que, tratado como deve ser, pode trazer uma
nova contribuição e pode oferecer uma nova perspetiva de desenvolvimento e
estabilização do país", referiu.
Para tal, considera essencial que
"a direção [do partido] seja capaz de fazer uso do aparato teórico que
[Amílcar] Cabral lhe legou".
As ideias foram deixadas perante uma
plateia em que se encontrava, entre outros, o novo presidente do PAIGC,
Domingos Simões Pereira, que aplaudiu a apresentação e troca de ideias.
"Geram-se contraditórios",
referiu, apontando a discussão crítica como o caminho para melhorar o debate
político.
No fim, para Ernesto Dabó, toda a discussão
política deve passar sempre pela melhoria das condições de vida da população,
que na Guiné-Bissau são das mais pobres do mundo.
"Quando há muita gente com fome,
quem tem pão sozinho deve ter muito cuidado. Deve tentar repartir para viver em
paz com os outros", concluiu.
Depois desta incursão pela política, o
escritor pretende voltar a apresentar outro trabalho em breve, mas noutra
temática.
"Estou a acabar de preparar uma
revista no domínio da arte e cultura, porque me parece que temos de parar de
escrever só sobre política, política a toda a hora", desabafou,
acrescentando que "é preciso cultivar as pessoas para fazer melhor
política". Lusa