Vladimir Fedorov – Voz da Rússia
A China colocou publicamente os EUA no seu devido lugar. O escândalo aconteceu em Naypyidaw, capital de Mianmar, no Fórum Regional da ASEAN para a segurança. Nesse fórum o ministro chinês das Relações Exteriores Wang Yi não apenas chamou à atenção do secretário de Estado dos EUA John Kerry. Ele angariou o apoio, na avaliação da situação no mar da China Meridional, por parte da maioria dos países da ASEAN.
A situação na Ásia se agrava, por isso os EUA e a ASEAN têm uma responsabilidade comum pela garantia da segurança nos mares, regiões terrestres e portos estrategicamente importantes, declarou John Kerry.
A China e a ASEAN já encontraram vias para a resolução dos problemas do mar da China Meridional. A situação aí estabilizou e também não há problemas para a livre navegação, respondeu Wang Yi. Ele discursou no fórum depois do secretário de Estado dos EUA.
A China não vê com bons olhos as especulações por parte de algumas pessoas sobre a chamada tensão em torno do mar da China Meridional, sublinhou o diplomata chinês. Ele apelou aos países da ASEAN para estarem atentos a planos secretos na avaliação da situação nessa bacia.
Entretanto Wang Yi rejeitou a intenção dos EUA em aumentar sua presença na região. Wang Yi propôs uma “abordagem em dois vetores” que exclui a participação dos EUA na regulação de disputas na Ásia. De acordo com Wang Yi, elas devem ser resolvidas exclusivamente através de consultas e negociações amigáveis entre os países envolvidos nesses problemas, assim como pela linha China-ASEAN. O perito do Centro de Análises de Estratégias e Tecnologias Vassili Kashin considera esse modelo de resolução de divergências como o mais adequado para a China:
“A China continua sendo o maior e mais influente país da região, por isso ela poderá obter um resultado desejável se lidar sozinhos com seus vizinhos. Por outro lado, os EUA tentam agora dinamizar sua política de contenção da China. Para isso eles começam anunciando cada vez mais suas posições, sobretudo em relação ao mar da China Meridional. Eles associam o problema territorial ao problema da liberdade de navegação. Sua preocupação pela situação serve de pretexto para um apoio político a países do Sudeste Asiático e para o seu aproveitamento como um instrumento e transmissor da política norte-americana. A China reage vigorosamente a isso. Entretanto as Filipinas estão ligadas aos EUA por uma aliança militar e, em caso de conflito militar, os EUA têm obrigações de assistência às Filipinas. Isso é um fator fortemente irritante para as relações entre a China e os EUA.”
Nesse contexto, não foi de surpreender o tom do discurso do ministro das Relações Exteriores das Filipinas Albert del Rosario no Fórum Regional da ASEAN. Ele apoiou o papel dos EUA na regulação das divergências no mar da China Meridional. O ministro expressou sua extrema preocupação pelo aumento da agressividade e pela ocorrência de diversas provocações nas águas em disputa.
Entretanto, os outros países da ASEAN recusaram diplomaticamente a proposta de John Kerry sobre uma intervenção dos EUA na regulação das disputas. Eles não discutiram o “plano Kerry”, tendo recordado que ainda em 2002 eles tinham assinado com a China um acordo de “observância de moderação” no mar da China Meridional.
Houve outra coisa que chamou a atenção. O Vietnã se absteve de quaisquer vênias na direção de John Kerry e de críticas à China, apesar de recentes trabalhos de perfuração, por parte de uma plataforma chinesa na zona offshore em disputa, terem agravado seriamente as relações sino-vietnamitas.
A Rússia, por sua vez, confirmou que a ingerência de terceiros países na resolução de disputas territoriais no mar da China Meridional era contraproducente. Isso foi declarado pelo vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia Igor Morgulov, que chefiou a delegação russa ao Fórum Regional da ASEAN e a outras iniciativas da ASEAN em Naypyidaw.
“Nós não somos participantes nessa disputa, por isso não apoiamos nenhum dos lados. Os próprios participantes da disputa territorial devem resolvê-la dentro de um formato definido por eles próprios”, sublinhou o diplomata russo. Ele apelou igualmente a uma resolução dos problemas existentes pela via político-diplomática e com base no direito internacional.
Foto: RIA Novosti/Roman Yandolin