O centro de tratamento de Ébola em Conacri conseguiu
curar cerca de dois terços dos doentes infetados com o vírus que ali chegaram
nas últimas seis semanas, disse à agência Lusa o chefe de missão dos Médicos
Sem Fronteiras (MSF) na Guiné-Conacri.
"Neste
centro, desde 27 de maio, 21 pacientes de um total de 31 saíram curados",
referiu Jerôme Mouton, que pede a quem fique doente que se dirija aos centros o
quanto antes porque quanto mais cedo for diagnosticado um caso de Ébola, mais
hipóteses há de sobreviver e de evitar o contágio.
A taxa de
cura alcançada "é uma conquista" e constituiu "alguma
surpresa", porque a estirpe Zaire do vírus, que está a causar o surto,
"é a pior: pode matar até 90% das pessoas afetadas", realçou.
"Não há
tratamento para o Ébola, mas é como outras doenças. O corpo luta contra ela e
pode ganhar essa luta com um pouco de ajuda", acrescentou o responsável
dos MSF.
A receita
passa por "tratar os sintomas e prevenir que outras infeções surjam",
tais como Malária, endémica na região, entre outras doenças.
Com essa
proteção acrescida dada ao doente isolado, "mantendo-o hidratado e
alimentado" para enfrentar a severidade da febre, vómitos e diarreias,
"o sistema imunitário tem capacidade para vencer a luta contra o vírus e a
pessoa ficar curada".
Ao mesmo
tempo que se trata quem já está infetado, acompanha-se o estado de saúde de
todas as pessoas com quem o doente contactou para ser feito um isolamento
precoce "no caso de alguém desenvolver os sintomas" de Ébola.
"Foi
isso que foi feito aqui na Guiné-Conacri com algum sucesso" e que Jerôme
Mouton acredita ser a razão pela qual "a situação está muito melhor que em
países vizinhos".
As
possibilidades de sobrevivência são confirmadas por Nyka Alexander, porta-voz
do centro de coordenação da Organização Mundial de Saúde para o combate ao
Ébola na sub-região (Giné-Conacri, Serra Leoa e Libéria).
"O que
sabemos é que se alguém tiver Ébola e não for tratado, nove em cada 10 morrem.
Mas se for para os centros, dois em cada três vão viver", destacou à
agência Lusa na sede da OMS em Conacri.
Um cenário
que a leva a realçar a necessidade de "espalhar a mensagem junto das
comunidades: vizinhos a dizer a vizinhos que se alguém se sentir mal deve ir a
um centro de tratamento e assim as chances de sobreviver e proteger amigos e
família são altas".
Nas ruas de
Conacri e noutras regiões do país onde também já foi detetado Ébola, a vida
decorre com normalidade, em contraste com o elevado grau de preocupação no
resto do mundo.
Jerôme
Mouton considera que a população tem razão em não entrar em pânico.
"Para
apanhar esta infeção é preciso estar em contacto direto com alguém que está
infetado e sintomático. Pessoas assim não costumam andar pelas ruas. Estão na
cama com febre alta e grande fraqueza e mesmo que circulem não trocam fluídos
corporais com toda a gente, todo o dia", explicou.
No resto do
mundo "há preocupação, porque é uma doença assustadora, mas é preciso
explicar que não é nova e sabemos o que fazer", acrescentou Nyka
Alexander.
"Temos
que cortar as cadeias de transmissão nestes países para ficarmos aliviados e
não haver tanta preocupação" no resto do mundo, concluiu.
Familiares e
equipas de saúde que tratam pessoas infetadas têm sido as principais vítimas da
doença, a par de quem trata dos corpos dos mortos. Fonte: Aqui
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