(atualizado às 23:20h)
Escutei com muita atenção a tua entrevista na Rádio Bantabá conduzida pelo nosso irmão Anizio Indami. Não pude participar, porque não estava em condições de o fazer. Adorei e mais uma vez se provou que não se pode agradar a todos.
Os temas que geralmente editas são pertinentes e de grande rigor informativo. É virtuoso e digno da tua parte que prossigas nesses caminhos para que casos como as que publicas não caiam no esquecimento ou sejam, simplesmente, abafados.
Concordo e louvo-te nesse trabalho difícil. Por outro lado, permita-me que te diga que esta entrevista foi uma espécie de barómetro para medir o nível de atração ou repulsão dos nossos concidadãos em relação aos teus temas. Tenho pena de concluir que muitos dos intervenientes não conseguiram atingir o alcance das tuas mensagens, dos teus propósitos.
É verdade que todos nós posicionamos e combatemos, ontem, hoje e continuaremos a combater o colonialismo na nossa terra. Discordamos frontalmente com as selvajarias perpetradas pelos chamados “ Comandos Africanos ”.
Mas, convém sempre separar as águas: no meu raciocínio, não se pode comparar uma situação de guerra, em que um soldado é morto no campo de batalha, ou de um prisioneiro de guerra, com as mortes por perseguições políticas ideológicas, tipo “caça às bruxas”, ajustes de contas, ódios familiares, invejas que tiveram lugar, na Guiné-Bissau, no pós-guerra, a partir de 1975.
Os extremismos, seja de um lado, seja do outro, são condenáveis a todos os títulos. O régulo dos Baboque..., Baticã Ferreira, não era dos “Comandos Africanos”, mas foi fuzilado publicamente diante do seu próprio povo.
Talvez algumas pessoas não saibam que Tchico Té, que também não era dos “Comandos Africanos”, foi assassinado, porque reagira, na altura, contra estas atrocidades do regime. Recordo-me, uma semana após o 14 de Novembro, Nino Vieira explicava as razões do golpe de Estado dizendo que “(…) nós fizemos o 14 de Novembro para acabar com matanças”, e a seguir dizia também: “(…) ami Nino Nka mata ningim…”
Ora, como dizia, mesmo se pode dizer em relação a Paulo Correia, Viriato Pã, Veríssimo Seabra, Tagme Na Waié, Nino Vieira, Helder Proença, Baciro Dabó, Roberto Cacheu, entre muitas outras pessoas que foram assassinadas, na nossa terra, sem nunca terem pertencido aos “Comandos Africanos” como o próprio entrevistador Anísio Indami ligeiramente aflorou no seu comentário às posições do Doka. Qual “Comandos Africanos” qual quê? Se fosse por causa disso um tio meu que era da companhia de Marcelino Da Mata não teria falecido só no ano passado, vítima de doença prolongada.
Portanto, não dá para tapar o céu com a peneira. É a ganancia pelo poder e a inveja que mata na nossa terra. Desde muito cedo, em 1976, que o PAIGC introduziu na nossa sociedade a “cultura de matança”, sem culpa formada ou com direito à defesa. Os pistoleiros e seus mandantes continuam impunes e a circular, até como heróis, na praça de Bissau. O pior crime que a atual geração pode cometer é branquear o passado. Por favor tenham cuidado…