terça-feira, 9 de setembro de 2014

Editorial: SERÁ QUE ÉBOLA É FATOR DA UNIDADE DOS GUINEENSES?

EdiçãoAA
 
Nunca se viu, depois dos primeiros anos da independência nacional, os guineenses tão unidos e a fazerem juntos a limpeza dos seus bairros, tabancas, sectores e regiões. Não se consegue descortinar, no seu seio, quem é do PAIGC, do PRS ou quem é militar e para-militar. É bom ver e viver de perto este clima da união dos guineenses onde todos falam do que nos une e nos liga enquanto guineenses.
 
Fez-nos recordar os bons velhos tempos de trabalho voluntário, após-independência, onde mostrávamos a nossa ligação à pátria sem cores partidárias, étnicas e religiosas. De Norte a Sul e do Leste a Oeste todos saíamos à rua com sorriso de orelha à orelha para limparmos o nosso bairro, tabanca, setor ou região sem pensar nos partidos políticos ou no fanatismo do clubismo. Foi bonito ver uma festa e um delírio de patriotismo a guineense que ainda resta na pátria de Amílcar Cabral. A participação dos jovens na campanha da limpeza nacional do país fez-nos lembrar os primeiros anos da luta armada da libertação nacional, em que os jovens, na altura, colocaram a sua energia e a sua vitalidade juvenil ao serviço da libertação da nossa pátria.
 
Foi bonito ver toda esta união nacional em prol da estabilização do país em que a limpeza servia do elo de ligação entre os velhos e os jovens. Mas, infelizmente, foi necessário estarmos perante uma ameaça iminente do Ébola para trazermos a ribalta a nossa consciência patriótica e a nossa dignidade nacional que vendemos há vinte anos da experiência da democracia multipartidária. É mesmo caso para perguntar “será que Ébola é fator da União dos guineenses?” será que se não houvesse Ébola o governo não teria outra iniciativa que pudesse congregar a família guineense? A resposta às duas questões encontra-se no discurso dos nossos governantes que participaram na limpeza.
 
Alguns deles transformaram a campanha da limpeza nacional num marketing político esvaziando-lhe a real intenção de patriotismo, e outros deixaram-nos a entender que é “Sambrás” da campanha eleitoral do PAIGC. É bom que saibamos distinguir o país com os partidos políticos. Quem está no governo deve ter um discurso de um governante e não de um partidário. A campanha partidária já era. Queremos agora ouvir dos nossos governantes com um discurso carregado de simbolismo de interesse nacional.
 
Esperemos que esta euforia do primeiro dia da campanha da limpeza nacional se mantenha e que a própria campanha não venha a transformar num “piquini” dos nossos governantes com os seus amantes, gastando as poucas verbas que os nossos parceiros de desenvolvimento nos cedeu para a prevenção desta nova doença mortífera do século XXI.
 
É bom que o Primeiro-ministro Domingos Simões Pereira esteja atento, porque houve sempre nos sucessivos governos deste país quem nos vende gato por lebre. Normalmente são aqueles cujos discursos estão carregados de signos que criam dificuldades para vender as facilidades. Aliás, espelham serem dignos de nome perante aos nossos interesses públicos, mas na essência são piores que uma barata na água quente. Se desenharmos com a nossa vista o que passou neste nosso país, ficaremos, com certeza, com a visão de que na realidade, como dizia um cabralista, “a pequena burguesia ainda não se suicidou”. Domingos Simões Pereira deve estar atento com as intrigas desta pequena burguesia que ainda não se sucidou. Porque a sua bala verbal é muito perigosa para o interesse nacional, porquanto ela só quer encher a sua barriga com o que é nacional sem “meter as mãos na lama”.
 
Esperemos que a campanha da limpeza nacional nos continue a unir em todo o território nacional e que não seja só porque estamos perante uma ameaça real de vírus de Ébola nos visitar. Nesta nossa Guiné-Bissau de hoje não queremos mais comprar gatos por lebres. Primeiro-ministro tenha paciência, se houver alguém com essa filosofia política é melhor o afastar agora do seu governo antes que seja tarde, porque já estamos cansados de comermos há anos e anos neste país gatos por lebres. Por favor, já chega! vamos todos meter as nossas mãos na lama e sermos sal da terra na construção da nossa Guiné-Bissau na unidade que mostramos nesta primeira semana da campanha da limpeza nacional. 
Por: António Nhaga
Diretor-Geral

antonionhaga@hotmail.com