Fonte: odemocratagb.com
A forma encontrada pelo governo de Domingos Simões Pereira para resolver, nos Media, a situação do alegado roubo de “90 cabeças de gado bovino” a mão armada nos Sectores de Cantchungo e de Caió, entre os meses de Setembro e Outubro de 2014, tem, para os especialistas em Ciências de Comunicação, um fundo de populismo eleitoral que neutraliza a própria estratégia do executivo de Comunicação na Administração Pública.
Em qualquer tabanca da Guiné-Bissau o roubo é condenável. E é certo que os autores de qualquer roubo devem ser punidos exemplarmente nas instâncias judiciais do nosso país. Portanto, estamos todos de acordo que, a ser verdade, os autores do roubo dos “90 cabeças de gado bovino” nas Tabancas de Cadjuguete, Tame, Batucar, Pandim, Cachobar, Uteacor, Bara, Chulame e Pindingulo, devem ser punidos exemplarmente nas nossas instâncias judiciais. Não nos Media, com um autêntico aparato de Guarda Nacional e de Polícia de Ordem Pública rodeados de um “batalhão” de jornalistas para testemunhar em tempo real o “Show Man” de uma operação de populismo eleitoral para mostrar aos eleitores da região o serviço prestado pelos seus eleitos.
A decisão populista e eleitoralista sem mandato de busca do Ministério Público detentor da Acção Penal que deve autorizar a execução de qualquer busca e revista, pode abrir um precedente perigoso na justiça. O governo de Domingos Simões Pereira tem advogado a justiça como meio para a estabilização do nosso país. Se o governo quer na realidade orientar a sociedade com base nas leis, deve evitar decisões de natureza populista e eleitoralista. Deve basear todas as suas decisões nas leis que existem no nosso país.
Esta decisão populista e eleitoralista do governo de Domingos Simões Pereira abriu um precedente perigosíssimo. Se amanhã houver um roubo de um camião de gado no Leste ou em Tombali, o governo não deve hesitar também em disponibilizar viaturas, combustível, motorizadas, bicicletas para o combate aos malfeitores que fustigam a nossa estabilidade social e nos tiram diariamente o sono. Aliás, a logística disponibilizada agora para esta operação de recuperação de “90 cabeças de gado bovino” nos Sectores de Cantchungo e de Caió é uma prova que afinal o governo já está em condições de disponilizar viaturas para os investigadores do Ministério Público ou FISCAP que precisam de meios e combustíveis para combater ladrões de peixe nos nossos mares.
As outras regiões esperam, não só do roubo de gado, mas também que o governo de Domingos Simões Pereira resolva os seus problemas como pretende resolver o de roubo de gado na região de Cacheu. Porque se Cacheu defronta-se com o fenómeno de roubo de gado, as outras regiões têm também fenómenos candentes que devem ter uma solução semelhante a do roubo do gado naquela parte nortenha do país.
Na verdade, todos estamos de acordo e condenamos quaisquer espécie de roubo, mesmo de uma agulhazinha em casa do nosso vizinho. Mas, também estamos de acordo que a nossa sociedade deve ser regida por leis que criamos. Portanto, os julgamentos não devem ser feitos pelos parlamentares, nem pelos jornalistas.
A situação de roubo de “90 cabeças de gado bovino” nos Sectores de Cantchungo e de Caió tem todos estes ingredientes, que podem levar a própria decisão assumir um carácter étnico e tribal, o que é perigoso nas sociedades democraticamente frágeis em que as pessoas são mais fortes que as instituições.
Multiplicações de magazines nos Media, em particular, nas Rádios na disseminação de uma decisão populista e eleitoralista do governo sem ter em consideração os seus efeitos nos Media, prova mais uma vez que na realidade este governo de Domingos Simões Pereira não tem ainda uma estratégia nacional de Comunicação para o Desenvolvimento.
António Nhaga
Diretor-Geral
antonionhaga@hotmail.com
Bissau, 3 de novembro de 2014
Diretor-Geral
antonionhaga@hotmail.com
Bissau, 3 de novembro de 2014