sexta-feira, 15 de maio de 2015

ABANDONO INFANTIL EM CABO-VERDE: MUITOS HOMENS CONSIDERAM QUE A SEPARAÇÃO DA MULHER IMPLICA A SEPARAÇÃO DOS FILHOS

Romilda TavaresRomilda Tavares, psicóloga e Coordenadora do Centro de Intervenção Comunitária da Ribeira Bote, considera que o abandono dos filhos pelo pai é um grande problema social em Cabo Verde. A psicóloga acredita que é necessário trabalhar a mentalidade dos homens assim como colmatar as lacunas jurídicas nessa matéria.
O abandono dos filhos pelo pai é uma luta que precisa de ser travada em Cabo Verde, no entanto, muitas das vezes não se trata de um abandono por falta de perfilhação, porque em muitos casos o pai até regista a criança, mas um abandono onde não há comparticipação por parte do pai na educação do filho quer a nível financeiro quer emocional, assegura Romilda Tavares. A psicóloga acredita que “está enraizada na cultura cabo-verdiana a ideia de que a mãe é quem cria e quem cuida das crianças e muitos homens cabo-verdianos têm a mentalidade que a separação da mãe e mulher implica a separação dos filhos”. Este facto faz com que o pai se distancie emocionalmente do filho e, logo, das suas necessidades económicas. Desta forma, a psicóloga Romilda defende que é preciso trabalhar e mudar esse pensamento que existe com maior ênfase nas classes sociais desfavorecidas, mas afirma que nos outros extractos sociais também não ficam aquém deste problema social.
 
Romilda Tavares acrescenta que é necessário travar duas campanhas: Mudança de mentalidade dos homens cabo-verdianos e colmatar as lacunas legais em matéria e exemplifica que “alguns casos de abandono começam pelo simples facto de um pai não querer registar o filho e é difícil obrigá-lo, visto que é necessário recorrer a um processo judicial e a um possível teste de paternidade que só pode ser feito no privado e é caro para os bolsos das mães que preferem ficar com os filhos sem pai”.
Efeitos psicológicos
 
Saber quem é o pai e este não dar atenção ao filho pode ter mais efeitos negativos do que naquele que desconhece quem é o pai. Porém, as consequências psicológicas num caso de abandono paternal dependem de vários factores, nomeadamente, “da idade em que a criança é abandonada, da maneira como a mãe lida com o facto e também do sistema de apoio que a criança encontra”. Podemos apontar como consequências mais graves, o sentimento de abandono e rejeição e a consequente perda de auto-estima da criança que, por sua vez, pode originar vários problemas na personalidade e vida da criança a médio e longo prazo, refere a Psicóloga Romilda Tavares. Esta assegura que “se o abandono acontece na tenra idade e a criança cresce sem a presença do pai, em termos psicológicos, o efeito não é tão relevante visto que a criança não está acostumada a uma figura paterna na sua vida. Torna-se mais problemático à medida que a criança vai crescendo, por exemplo, na idade escolar quando ela se insere noutros ambientes e começam as comparações com o grupo de pares”. Crescer sem o pai pode afectar menos uma criança que tenha uma figura paterna substituta na sua vida, através de um avô, um tio ou um padrasto. Como referiu anteriormente a psicóloga, tudo depende do sistema familiar em que a criança está inserida.

 Abandono paternal quando deve entrar o psicólogo
 
O psicólogo não deve entrar necessariamente só porque a criança pergunta, mas sim quando o abandono está a afectar o seu normal desenvolvimento ou se a mãe sente que não consegue lidar com a situação, explica Romilda Tavares. A psicóloga acrescenta que “trabalhar só com a criança não adianta de nada, é preciso trabalhar com a mãe ou com a figura materna para que possamos obter os resultados esperados”.
 
A mãe poderá dar uma explicação verdadeira ou não à criança, mas esta justificação deverá ajudar a criança a resolver-se internamente com a sensação de abandono paternal, afirma Romilda Tavares. Esta acredita que “às vezes, é mais conveniente não contar toda a verdade pois a criança não tem o mesmo grau de discernimento que um adulto e a verdade poderá provocar mais danos. Por exemplo, no caso de um pai que simplesmente não regista a filha porque acha que a filha é feia, não há necessidade de contar a verdade à criança pois isso iria causar grandes danos à auto-estima da criança”. Fonte: NN