Relação entre os dois era “muito tensa” antes do acidente de Mbuzini, segundo depoimento de antigo militar moçambicano.
O depoimento de 1998 de um antigo Comandante da Força Aérea Moçambicana perante a Comissão da Verdade e Reconciliação da África do Sul (TRC), agora divulgado ao abrigo da Lei da Promoção do Acesso à Informação, em vigor naquele país desde 2000, revela que as relações entre Armando Guebuza e Samora Machel antes do acidente de Mbuzini “eram muito tensas”, tendo o então Ministro do Interior preparado uma “força especial” com o “objectivo de derrubar o presidente Machel”.
Ouvido pelo TRC à porta fechada, na Cidade do Cabo, a 3 de Junho de 1998, o Coronel João Honwana falava no âmbito da Comissão de Inquérito moçambicana instaurada para investigar as causas da morte do presidente Samora Machel, que faleceu na sequência da queda de um avião russo nos montes Libombos, próximos da aldeia sul-africana de Mbuzini.
Segundo o CanalMoz, a situação levou Machel a despromover Guebuza de ministro do Interior para um cargo que “basicamente não tinha nenhum significado”. Honwana relatou ainda uma série de reuniões do Bureau Político da Frelimo em “torno da questão Guebuza” que motivaram uma “troca de palavras bastante tensas entre Guebuza e o Presidente Samora Machel”.
O depoimento de Honwana centra-se também na situação militar de Moçambique, sobre a qual Samora Machel pouco sabia. “Ele deu a entender que havia sido induzido em erro, e levado a acreditar que as Forças Armadas tinham o controlo da situação”, quando a realidade era outra, disse o coronel, citado pelo CanalMoz.
Numa visita à Base Aérea de Nacala, o então presidente moçambicano terá revelado a intenção de substituir o Chefe de Estado-Maior das Forças Armadas, o general Sebastião Mabote, por Armando Panguene, pois “a vitória contra a Renamo dependia da colocação da pessoa certa no lugar certo”.
De acordo com o depoimento do Coronel João Honwana, a mudança seria a primeira de várias reformas previstas no exército moçambicano, uma vez que Samora Machel, no regresso da viagem à Zâmbia, a 19 de Outubro de 1986, “preparava-se para remodelar a estrutura de comando das Forças Armadas de Moçambique”.
Rede Angola, em PG