sexta-feira, 22 de maio de 2015

AGÊNCIAS DE RATING QUEREM CHEGAR A ÁFRICA

Monstros e assassinos económicos(ver video), fora do continente africano. Chega!
 
A comunidade internacional de investidores tem «fome» de informações sobre os países africanos, mas o acesso ao mercado é um desafio para as empresas rating de crédito.
 
Quando milhões de nigerianos se dirigiram às urnas nas históricas eleições de março, o otimismo entre os eleitores era palpável. Num país conhecido pela sua disposição alegre – uma sondagem da Gallup, em 2014, constatou que os nigerianos são o povo mais positivo de todos –, a possibilidade de participar na votação trouxe filas bem-dispostas e brincadeiras às assembleias de voto.
 
Mas se há um setor que se mostra imune à onda de positividade da Nigéria é o das agências de rating de crédito, responsáveis pela monitorização das difíceis perspetivas orçamentais do país. Mesmo enquanto a votação decorria, a ritmo acelerado, a Fitch cortou as perspetivas do país para negativas – seguindo os passos da Standard & Poors, que alguns dias antes «baixara» um nível à Nigéria.
 
A perspetiva negativa num momento de alto otimismo foi ilustrativa de um desafio mais amplo entre os ratings de crédito de empresas em África – como capturar o espírito da época de um continente emergente, evitando ao mesmo tempo tendências de curto prazo relativas a um lance de popularidade e a novos negócios? Com ventos económicos contrários a atingirem o continente, o problema tornou-se mais agudo.
 
O surgimento de agências de rating na África decorreu em grande parte paralelamente à abertura dos mercados financeiros. Das suas origens humildes, no início dos anos 90, com foco na Nigéria e África do Sul, as agências têm-se expandido por todo o continente e agora fazem juízos sobre tudo, desde os Eurobonds do Ruanda aos produtores de açúcar do Quénia.
 
As «três grandes» – Fitch, S&P e Moody’s – são os jogadores dominantes que aglomeram o mercado global. Todos fizeram esforços para expandir as suas operações em África, onde contam com o apoio de empresas locais, ansiosas por promover as suas credenciais especializadas.
 
Marc Joffe, diretor executivo da agência de rating Global Credit Rating Co (GCR), focada em África, estima que existam de 500 empresas de rating no continente – de um grupo potencial de 2500. «Nós não estamos na fase infantil, mas também não estamos na fase final – estamos mais ou menos no meio, dependendo do mercado de que se falar. Mas as oportunidades são imensas», diz.
 
Esta procura está a ser impulsionada por uma comunidade de investidores ansiosos por terem acesso a informações financeiras atualizadas sobre os países de África, bem como sobre regiões e empresas, com o continente a ficar cada vez mais incorporado nos mercados globais. Paul Vaaler, professor associado da Carlson School of Management, da Universidade de do Minnesota, acredita que os investidores veem os ratings de crédito como uma ferramenta essencial para as decisões de investimento nos mercados emergentes. «Se conversarmos com o vendedor médio de títulos da dívida soberana, este vai dizer que não se importa muito com o que os avaliadores de crédito pensam [os dos EUA ou do Reino Unido]. Mas no Gana, por exemplo, eles importam-se – é apenas um lugar menos transparente, por isso preocupam-se mais com essa expertise».
 
Apesar do clamor dos investidores por novas fontes de informação, entrar nos restantes mercados africanos restantes está a mostrar-se um desafio para as empresas de rating. Em função da evolução mais ampla do mercado financeiro de um país, as empresas precisam de trabalhar muito para ganhar a confiança de uma vasta gama de interessados – de políticos e reguladores a chefes de empresas e investidores externos.
 
Olusegun Alebiosu, especialista-chefe de risco de crédito no Banco Africano de Desenvolvimento, diz que os esforços de divulgação podem muitas vezes ser prejudicados pela desconfiança em relação às intenções de rating de crédito das empresas. Alebiosu diz que tais «perceções negativas» podem ser atenuadas por linhas claras de diálogo entre as agências de notação e os países classificados – e com discussões honestas sobre como as avaliações podem ser melhoradas. «Torna a vida fácil para toda a gente dizer, “OK, tu fizeste A, B, C e D por mim, por isso agora deixa-me fazer A, B, C e D por ti”. Se não temos isto, não há nenhuma maneira de podermos avançar, por isso é importante.»
 
Não é só em África que existe um défice de confiança entre as agências de rating e o ecossistema financeiro. A reputação das «Três Grandes» está a lutar para recuperar do rescaldo da crise financeira global. Hipotecas inúteis foram dotadas de classificações superiores, as estratégias para melhorar o desempenho dos bancos não foram questionadas, e os analistas tiveram dificuldade em detetar os sinais de uma crise iminente. Na sua maioria, as agências de notação foram acusadas de serem demasiado ligadas aos clientes que pagavam pelos seus serviços – uma lacuna de credibilidade que ameaçou engolir a indústria. Dado um desempenho tão mau, a relutância de algumas entidades africanas quanto a sujeitarem-se aos ratings é talvez compreensível.
 
Para Konrad Reuss, diretor-gerente da S&P para a África subsaariana, uma abordagem educativa por toda a África está a conduzir a um nível elevado de compreensão em torno de ratings de crédito, sendo a situação «muito melhor» do que a de há cinco ou 10 anos. «Em muitos aspetos, a situação ao longo do último par de anos não foi tão diferente da que encontrámos nos anos 90 na Europa Central e Oriental. Temos muito para ensinar e para fazer, começando por coisas simples, como "O que é uma classificação? O que é bom para cada caso? Como funciona o processo?”.» Reuss acredita que se tenha conseguido uma melhor compreensão dos benefícios do rating de crédito – mesmo que a classificação final não corresponda à de um governo ou ao resultado desejado por uma empresa. «As avaliações em si tendem a ter baixa audiência, mas isso não deve ser uma surpresa, porque estamos a falar de países de rendimento médio ou baixo, que ainda têm questões para resolver em torno da construção de instituições estáveis e da elaboração de políticas sustentáveis. Mas os governos de países que são alvo de rating sabem que isso lhes traz valor acrescentado.» Fonte: Aqui