sexta-feira, 29 de maio de 2015

PERSONALIDADES NACIONAIS OPINAM SOBRE A VISITA DO REI MOHAMED VI

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Na perspectiva da visita do rei Mohamed VI de Marrocos, O Democrata auscultou as opiniões de um historiador (Mário SissokO), de um político (Juliano Fernandes) e do Imame Bodjam. Na opinião das três individualidades, a visita do monarca ao nosso é importante e dela poderão resultar muitas vantagens caso as autoridades nacionais fizerem o trabalho de casa.
 
Mário SISSOKO: “AUTORIDADES GUINEENSES NÃO TÊM SABIDO TIRAR O PROVEITO DE MARROCOS”
 
O historiador guineense Mário Sissoko considera que a relação entre o povo guineense e o povo marroquino teve o seu início deste seculo XVII, concretamente no tempo do império marroquino “Grande Mauritânia”.

Sissoko explicou ainda a O Democrata que a amizade existente entre esses dois povos não ficou só confinado ao período do império, mas também houve forte apoio por parte das autoridades marroquinas e, sobretudo do Rei Mohammed V à luta pela Independência da Guiné-Bissau.
Revelou por outro lado que a ajuda deste país africano não era apenas em armamentos militares, mas também houve apoio político e até financeiro ao Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo-verde.

“O apoio de Marrocos à Guiné-Bissau deve-se ao compromisso moral assumido pelo falecido Rei Mohammed V que era um pan-africanista comprometido, por isso os seus sucessores tem feito ao longo destes tempos esforços para salvaguardar a relação criada pelo Rei Mohammed V para com o PAIGC”, explicou.
 
Na visão do historiador, as autoridades guineenses não têm sabido tirar o proveito das relações históricas para o bem-estar de país, sobretudo, para aproveitar o investimento dos empresários marroquinos em diferentes áreas na Guiné-Bissau.

 Lembrou, no entanto, que houve duas tentativas de pôr em causa a relação de amizade entre o PAIGC e as autoridades marroquinas. Explicou ainda que o próprio Amílcar Cabral decidiu aproximar os partidos e movimentos ideologicamente comunistas que punham em causa o sistema monárquico.
 
“Essa decisão de Cabral não era bem vista pelo Rei Mohammed V, portanto isso teve como consequência a saída de Amílcar de Marrocos, onde vivia com ajuda financeira do Rei. Foi assim que o Amílcar saiu de Marrocos para a Guinée-Conacri. A segunda decisão mal tomada, foi precisamente após a independência quando o regime liderado por Luís Cabral reconheceu e permitiu a abertura no país de um escritório da Frente para Libertação de Sara Ocidental”, contou o historiador, que entretanto, avançou ainda que mesmo com todas essas “traições” o reino do Marrocos continua a estar ao lodo do povo e do Estado da Guiné-Bissau.
 
Indagado sobre o que se deve fazer para fortificar mais a relação entre o povo marroquino e o povo guineense, Sissoco disse que para a manutenção da cooperação histórica entre os dois países é preciso o respeito pela relação que no seu entender, passa necessariamente pelo estudo da história de amizade entre os nossos povos pelos políticos.
 
Juliano Fernandes: MARROCOS FOI UM PARCEIRO IMPORTANTE DURANTE A LUTA PELA INDEPENDÊNCIA

 O Secretario Geral do Partido Assembleia do Povo Unido – Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU – PDGB), Juliano Fernandes, afirmou que a visita do Rei Mohammed VI não pode ficar restrita só a parte formal, mas deve ser feito um bom trabalho de casa para que o país possa tirar vantagens quer para sector económico, quer o político e quer para sector cultural.
 
Juliano Fernandes considera que é de aplaudir a decisão tomada pelas autoridades nacionais, uma vez que Marrocos constitui uma potência económica em África, para além disso, Marrocos foi um parceiro importante durante a luta pela independência.

 O político diz ter muita reserva se tem havido, efectivamente, um trabalho de rigor por parte das autoridades. No entanto, Lembrou que na mesa redonda de Bruxelas, Marrocos não fez qualquer tipo de anúncio de apoio financeiro, dai considerar que é importante que a visita seja bem preparada com vista a obtenção de maiores ganhos para a sociedade.
 
Apesar da reserva que tem em relação a preparação da visita da sua Majestade, Juliano Fernandes mostra-se confiante que haverá algum resultado de bom para o povo da Guiné-Bissau.
 
O Secretário-geral de APU – PDGB, disse estar ciente que volumes de acordos de cooperação poderão ser assinados entre as partes. Todavia, sustentou que as partes devem trabalhar na criação das condições para efectivação na prática dos acordos que serão rubricados no âmbito da visita do Rei Mohammed VI. Acrescentou neste particular que “é chegada a hora para que haja um entendimento entre os principais responsáveis dos órgãos de soberania”.
 
O político diz esperar que o clima de resfriamento da relação entre o Presidente da República e o Chefe do Governo não venha a afectar os resultados pôs visita do monarca marroquino.

 Juliano Fernandes afirmou que poderá haver uma rotura no país caso a situação de mal-estar no seio dos responsáveis dos órgãos de soberania não seja ultrapassada. Sublinhou que o seu partido está disponível para trabalhar para que seja encontrada a paz, bem como o entendimento entre os titulares dos órgãos da soberania.
 
IMAME BODJAM: “PODEREMOS BENEFICIAR DE BOLSA DE FORMAÇÃO DE IMAMES EM MARROCOS”

O Imame principal da Mesquita de Attadamun, Aliu Bodjam, disse a O Democrata que a comunidade muçulmana guineense poderá beneficiar de muitas coisas com a visita do Rei Mohammed VI à Guiné-Bissau, sobretudo no que concerne a formação dos imames (padres) no reino de Marrocos.
 
Acrescentou ainda que anualmente o reino de Marrocos oferece uma bolsa de formação aos imames para os países da África Ocidental, mas que não se lembra se o país chegou a beneficiar desta bolsa, pelo que e de acordo com informações que dispõe, é possível que o país venha a beneficiar da bolsa de formação dos imames depois da visita do rei à Guiné-Bissau.
 
“Também podemos beneficiar de uma formação realizada em Marrocos no período de ramadão. Oferece-se uma ou duas bolsas para cada país da África, para a formação em matéria do ensino corânico durante o mês de ramadão”, explicou o imame.

 Indagado se convidaria o Rei Mohammed VI para dirigir a reza de sexta-feira, o imame da Mesquita Attadamun, Aliu Bodjam disse que seria um prazer e honra para ele convidar o emir (Chefe religioso) de Marrocos, Mohammed VI para dirigir a reza de sexta-feira na sua mesquita.
 
“Se Sua magestade estiver disponível para dirigir a reza de sexta-feira, seria bem-vindo. E para nós seria uma grande coisa rezar ao lado da sua magistade. Se ele não estiver disponível e se vier a escolher qualquer outra pessoa da sua delegação, portanto isso também não tem problema nenhum”, contou.
 
O imame assegurou neste particular que a população guineense, em particular, os citadinos de Bissau devem sair à rua em massa para receber a sua magistade, Mohammed VI. Sustentou ainda que a população guineense em geral deve aproveitar a ocasião para mostrar ao mundo que os “guineenses são unidos e que a Guiné-Bissau é um país que conseguiu encontrar o caminho de paz e da estabilidade”.
 
“O Rei deve sentir que está na segunda pátria e por isso devemos organizarmo-nos muito bem para a sua recepção. Todo o país deve se juntar, sobretudo as autoridades devem diligenciar na criação das condições necessárias para a receber o Rei Mohammed VI, porque é o nosso país que tem a ganhar com a sua visita através de assinatura de acordos de cooperação e apoios em diferentes sectores”, assinalou.

 
Por: Tiano Badjana