quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

CÔTE D'IVOIRE: ANTIGO PRESIDENTE DECLARA-SE INOCENTE NO JULGAMENTO NO TPI

Para Abel Naki, um dos organizadores da manifestação em frente ao TPI, Laurent Gbagbo foi "sequestrado e deportado".
 
"Este facto "lembra-nos os anos de escravidão e o colonialismo. A verdade vai prevalecer sobre a mentira", afirmou o manifestante.

Haia - O antigo presidente da Côte d'Ivoire, Laurent Gbagbo, declarou nesta quinta-feira ser inocente das acusações de crimes contra a humanidade no início do primeiro julgamento do Tribunal Penal Internacional (TPI) contra um ex-chefe de Estado.
 
"Declaro-me inocente", disse Gbagbo, de 70 anos, quando um oficial do tribunal leu as acusações de Haia contra o ex-chefe de Estado, que foi preso há cinco anos.

O antigo chefe de Estado havia se recusado a entregar o poder, após a eleição presidencial de 2010, desencadeando uma onda de violência que deixou 3.000 mortos e terminou em Abril do ano seguinte, quando foi preso depois de vários dias de bombardeamentos das forças francesas.
 
Junto com Gbagbo, está a ser julgado também o ex-chefe de milícias Charles Blé Goudé, de 44 anos, cujos partidários são acusados de centenas de execuções e abusos.
 
 "O objectivo deste processo é descobrir a verdade para que as vítimas recebam justiça", declarou quarta-feira o procurador Fatou Bensouda, que nesta quinta-feira deveria fazer sua primeira apresentação diante dos juízes.
 
 Os representantes de 726 vítimas admitidas no julgamento vão depor sucessivamente. Em seguida, será a vez da defesa de se pronunciar neste julgamento que poderá durar até quatro anos.
 
A promotoria afirma dispor de 138 testemunhas (embora nem todas serão levadas perante o tribunal) e mais de 5.300 peças de evidência.
 
Na manhã desta quinta-feira, quando a audiência era iniciada, várias centenas de partidários do ex-chefe de Estado já estavam reunidos em frente ao prédio do TPI.
 
Vestindo lenços, chapéus e outros adereços com as cores da bandeira da Côte d'Ivoire (verde, branco e laranja) e ao ritmo de tambores com ritmos africanos, os manifestantes enfrentaram a manhã fria holandesa e reivindicavam, alternadamente, "Libertem Gbagbo! " e "Gbagbo presidente".
 
 O ex-presidente é acusado de incentivar a campanha de violência para se tentar manter no poder depois de perder as eleições.
 
O seu luger-tenente Charles Blé Goudé é acusado de comandar esquadrões da morte acusados de estuprar e matar centenas de pessoas.
 
Mas os partidários de Gbagbo acusam os outros partidos e a França, antiga potência colonial, de estar por trás de um "complot" para derrubá-lo.
 
"Sonhamos em ver em liberdade o nosso presidente", disse à AFP Marius Boué, que viajou para Haia do norte da França.
 
Para Abel Naki, um dos organizadores da manifestação em frente ao TPI, Laurent Gbagbo foi "sequestrado e deportado".
 
"Este facto "lembra-nos os anos de escravidão e o colonialismo. A verdade vai prevalecer sobre a mentira", afirmou o manifestante.
 
A esposa de Gbagbo, Simone, foi condenada na Côte d'Ivoire a 20 anos de prisão por sua participação na crise. Fonte: Aqui