O setor de Empada, Região de Quínara, Sul da Guiné-Bissau enfrenta um risco eminente de fome, devido a fraca colheita agrícola dos camponeses daquela zona do país. Muitas famílias já estão quase a ficar sem comida.
A subida do nível das águas do rio Grande de Buba provocou danos irreparáveis às famílias camponesas daquele sector potencialmente agrícola, onde milhares de pessoas poderão enfrentar dificuldades no que tange a questão da alimentação.
Como não basta ouvir apenas os relatos à distancia, o semanário “O Democrata” fez deslocar uma equipa de reportagem que percorreu as diferentes aldeias de Empada, principalmente as afetadas pela calamidade que destruiu os cultivos nas bolanhas, para constatar “in loco” a real situação da população que ali vive e inteirar-se dos estragos causados pela subida drástica do nível do mar.
Dada a crise alimentar que se verifica na zona, o terreno tornou-se fértil para os comerciantes que praticam a atividade de campanha de castanha de cajú na Região de Quínara, particularmente no setor de Empada. Os compradores de castanha de caju, já começaram a tirar vantagens da triste situação em que a população vive neste momento, dando de empréstimo um saco de arroz de cinqüenta quilos (50 kgs) para os responsáveis das famílias virem pagar uma quantidade de 75 quilos no período da colheita do ‘ouro’ guineense, a castanha de cajú.
A reportagem de “O Democrata” visitou a bolanha de Gã Tumane uma de entre tantas outras, afetada pela subida das águas do mar que galgou os diques construídos pela população local.
Nessa localidade, naquelas bolanhas ainda são visíveis os danos provocados pelas águas salgadas, tornando algumas áreas então cultivadas, como se nunca tivessem sido cultivadas nenhuma semente ou planta de arroz e que este chegou a germinar.
O que admirou a população de Gã Tumane é a forma como a água conseguiu ultrapassar o nível habitual e galgou os diques, porque para os nativos daquela aldeia o normal é assistirem a água partir os diques, mas não como aconteceu na última época das chuvas.
Em 2005 aconteceu uma cheia quase idêntica ao do último ano agrícola, provocando danos, mas não na mesma proporção deste que praticamente deixou muitas famílias a beira da fome.
A zona mais afetada nas bolanhas de Gã Tumane são as áreas situadas a escassos metros do Rio Grande de Buba. Quem estiver nas margens do referido rio, na povoação de Gã Tumane, pode vislumbrar de longe a cidade de Bolama, assim como a ilha de Canhabaque.
O responsável da construção dos diques na tabanca de Gã Tumane, José Correia, está visivelmente preocupado com a crise que assola os gantumanenses desde a calamidade ocorrida no mês de Setembro do ano findo. Correia foi quem conduziu a equipa de “O Democrata” às zonas afetadas nas bolanhas, assim como a algumas que sobreviveram à catástrofe.
A enorme bolanha de Gã Tumane é onde as populações das povoação que compõem a seção de Madina de Baixo, nomeadamente as aldeias de Madina de Baixo, Madina de Lala, Gã Turé e próprio Gã Tumane cultivam o seu arroz.
O último ano agrícola foi nulo para muitas famílias das cinco tabancas da seção de Madina de Baixo, porque já tinham utilizado toda a semente que possuíam nas bolanhas e viram as suas plantações consumidas pelas águas do Rio Grande de Buba, nos finais do mês de Agosto e principios de Setembro de 2014.
Gã Tumane é uma aldeia situada a uma hora e meia de Bolama, numa viagem de canoa a motor fora de bordo, e possui poucas plantações de cajú. Mesmo com a boa venda de castanha de cajú de 2015, os gantumanenses não gozam deste privilégio. As bolanhas são os principais suportes das famílias.
POPULAÇÃO DE GÃ-TUMANE APOSTAM NO ÓLEO DE PALMA PARA COMBATER A FOME
Para fazer face a essa calamidade, a população de Gã-Tumane aposta na produção de óleo de palma como forma de sobreviverem à má colheita agrícola do último ano.
José Correia disse que viram fracassar os seus esforços, apontando a exploração das palmeiras para a produção de óleo de palma como a alternativa para assegurar as suas famílias contra a fome iminente. Abalado pela situação, Correia considera que cultivaram recentemente a batata doce e mandioca, mas que apenas estarão maduros para a colheita, dentro de três a quatro meses.
Além da batata e mandioca apontadas como a esperança dos gantumanenses, a pesca também aparece como um suporte para a sobrevivência familiar.
Os habitantes de Gã Tumane praticam tradicionalmente a produção do arroz. As outras culturas são pontuais e servem para acompanhar os trabalhadores na lavoura, na época das chuvas, como o feijão que ainda está na sua fase embrionária e levará algum tempo para a sua exploração.
De momento a população está a diligenciar iniciar a reparação e a reconstrução dos diques danificados com vista estancarem uma futura situação do gênero.
Em Gã Tumane, a reportagem de “O Democrata” encontrou quatro tubos destinados a melhoria dos diques, que a população local recebeu da parte do ministério da Agricultura antes das cheias. Os tubos facilitariam os agricultores na retenção da água doce quando fosse necessário. Porém não foram instalados nos canteiros de arroz, porque na altura havia muita água nas bolanhas cultivadas e os agricultores estavam a espera que o nível das águas descesse para prosseguirem depois com os trabalhos de reparação, fato que não aconteceu a tempo.
“A fome! Este ano passamos muito mal, muitas dificuldades e falta a comida”, são as palavras mais ouvidas ao longo das áreas percorridas pela nossa reportagem naquela região que é composto maioritariamente por camponeses.
Os populares da zona informaram às autoridades competentes da situação, e receberam garantias de apoio do ministério da Agricultura na recuperação das bolanhas afetadas, mas até a realização desta nossa reportagem nada chegou às mãos da população sinistrada.
“A nossa bolanha é muito boa para a produção de arroz. Aqui produzimos muito arroz que dá para sobreviver e vender e ganhar alguma quantia em dinheiro para resolvermos as nossas necessidades e pagar os estudos das nossas crianças. E este ano nada não nos correu bem”, lamentou José Correia.
As bolanhas mais afetadas são aquelas situadas na zona mais baixa, ou seja, junto ao rio, enquanto que aquelas localizadas nas zonas cimeiras e com ligação às lagoas sobreviveram ao desastre, porque mesmo tendo sido atingidas pela água salgada, à descida da água para o mar beneficiou essas bolanhas. Os camponeses das bolanhas de cima conseguiram colher alguma coisa, mas em Gã Tumane quase ninguém tirou proveito das bolanhas.
José advertiu que sem o apoio do governo, a população de Gã Tumane correrá sérios riscos e podem passar fome nos tempos que se seguem, reiterando que “estamos cansados, por isso, pedimos o apoio do executivo em materiais e gêneros alimentícios para a reconstrução dos diques”.
MULHERES DE GÃ-TUMANE PEDEM APOIO DO GOVERNO
Natália da Silva foi à porta-voz das mulheres que juntaram as suas vozes a dos homens para alertar às autoridades sobre a fome que se aproxima da população de Gã-Tumane.
“Aqui só sacrificios, a água salgada entrou nas nossas bolanhas e estragou toda a nossa cultura de arroz. Um exemplo, disso é a minha mãe que perdeu tudo”, lastimou da Silva.
Na visão da jovem, Gã Tumane foi à maior vítima devido a sua proximidade com o mar, acrescentando que agora resta que quem tiver dinheiro compra arroz aos comerciantes para o seu sustento.
Natália disse que para explorar as palmeiras, os exploradores habitualmente vêm de outras partes. Quando colhem o produto da palmeira, as mulheres compram para a sua transformação em óleo de palma e de seguida vendem-no para ganhar algum dinheiro, porque poucos homens de Gã Tumane praticam aquela atividade, assim como a de pesca artificial.
“Estamos muito mal aqui, se o governo nos ajudar seria bom para a nossa sobrevivência e também na recuperação dos diques, porque na realidade estamos num grande castigo”, concluiu a jovem.
A água salgada galgou os diques e partiu-os em determinados pontos, provocando danos que deixaram marcas nas famílias gantumanensas.
Entretanto, a população de Gã Tumane não ficou de braços cruzados, tem estado a procurar soluções para evitar a fome. Organizaram um grupo de jovens que colheu o “chabéu” das palmeiras para produzir óleo de palma que depois será vendido para comprar arroz que partilharão entre os diferentes responsáveis das famílias daquela localidade.
Felizmente de uma coisa se livraram, os gafanhotos que nem perto passaram pela zona com vista a darem o golpe de misericórdia a parte das culturas que se encontram nas zonas cimeiras não atingidas pelas águas.
Residentes de Gã Tumane fazem neste momento troca de um litro de óleo de palma por um quilograma e meio de arroz, ou seja, quem pretende um saco de 50 quilos de arroz, terá que dispôr de 35 litros de óleo de palma. Segundo os populares, aquela quantia de óleo de palma corresponde a 40 mil francos CFA, fato que lamentaram bastante.
“O governo e seus parceiros devem olhar para nós, porque se não, a seção de Madina de Baixo pode desaparecer, por causa da fome. Onde há fome significa que não há paz no mesmo sítio. Se todos estão saciados, a paz prevalece imediatamente, por isso pedimos ao governo que se esforce no sentido de nos devolver a paz”, notou o chefe da tabanca de Gã Tumane, Abudu Camará.
O chefe da tabanca de Gã Tumane afiançou que a população local está disponível para assumir a reconstrução dos diques, precisando apenas do apoio do executivo em ferramentas e géneros alimentícios para suportar a equipa que vai ao terreno para reerguer os diques danificados.
Gã Tumane é uma aldeia que possui uma das melhores praias do país, freqüentada na sua maioria pela população residente nas regiões de Quinara e Tombali com maior freqüência no mês de Maio. Tem 370 habitantes residentes atualmente e conta com 42 famílias, todas afetadas pelas cheias de Setembro de 2015 e que se fez sentir um pouco por toda Guiné-Bissau.
MADINA DE BAIXO SEM PEIXE POR CULPA DO FISCAP
A aldeia de Madina de Baixo, sede da seção com o mesmo nome, teve uma colheita aceitável nos campos, mas no que refere às bolanhas, está na mesma situação que Gã Tumane, tendo em conta que beneficiam das mesmas bolanhas que foram invadidas pelas águas salgada.
Os madinabaixenses que também vivem da pesca artesanal, queixam-se da falta de pescado, devido à campanha de apreensão das redes de pesca (tipo Tchas) pelos agentes da fiscalização marítima nacional (FISCAP). Queixam-se também da falta de canoas de pesca, o que consideram ser um dos fatores da falta de peixe, porque de acordo com o chefe da tabanca de Madina, Braima Sanhá, têm medo de derrubar árvores para construção de canoas de pesca, porque os agentes da floresta proibiram o abate de árvores naquela zona.
A maioria dos chefes de família recorre a exploração das palmeiras para a produção de óleo de palma. Nas tabancas de Itudunbu e Gã Tchombé de Baixo igualmente perderam praticamente toda a cultura de arroz nas suas bolanhas.
A FISCAP retirou as rede de pescas (Tchas dos pescadores), mas prometeu que seriam substituidas por outras novas, adequadas para uma pesca racional. Até altura dessa reportagem os agentes da fiscalização marítima não levaram para Madina de Baixo nenhuma rede. Tendo em conta a situação difícil que os habitantes de Madina vivem, Sanhá apelou ao governo que ajude a comunidade local com gêneros alimentares e redes de pesca.
Mesmo com a campanha de desmantelamento dos acampamentos ainda a decorrer, verifica-se novos acampamentos de pesca de pescadores estrangeiros. A estratégia dos referidos pescadores passa pela aproximação da zona onde se encontram os habitantes das aldeias para aí montarem os seus acampamentos.
A localidade de Gã Mamudu Bá e Bissassima de Baixo, ambos possuem acampamento de pescadores estrangeiros.
CAUR DE BAIXO É UMA OUTRA VÍTIMA DAS ÁGUAS SALGADAS
A par das outras localidades por onde a nossa reportagem passou, a tabanca de Caur de Baixo sofreu enormes perdas nas suas bolanhas.
Caur possui muitas plantações de cajú, mas nos cálculos da população, o rendimento da venda da castanha de cajú não cobrirá o sustento das famílias até a próxima campanha que se avizinha.
A cultura de arroz ‘Mpampam’ que parecia ser uma alternativa aos danos provocados pela água salgada, foi estragada pelas ‘farfanas’, uma espécie de suino selvagem que se alimenta de ervas e que estragou parcialmente as culturas do campo. Ao contrário, a colheita de mancara correu bem em Caur de Baixo.
A população já se mobilizou para a reconstrução dos diques, mas a tabanca de Caur não recebeu ainda os tubos que facilitam a saída da água. A população pediu apenas o apoio das autoridades na alimentação das pessoas que irão trabalhar nos diques.
Caur de Baixo tem 768 habitantes divididas entre 82 famílias e fica a cerca de meia hora de viagem para o centro de cidade de Empada.
GAFANHOTOS, A DESGRAÇA DOS CAMPONESES DA TABANCA DE DARESALAM
Em Daresalam os gafanhotos é outra praga com que confrontam, estes insectos danificaram as culturas nos campos (Mpampam). De acordo com a população local, o arroz até estava a germinar muito bem, mas uma praga de gafanhotos inviabilizou a sua normal produção, reduzindo a zero a expectativa que podia minimizar os danos causados pelas águas salgada.
Os gafanhotos danificaram as culturas do arroz, milho, feijão, mandioca e batata, e as ‘farfanas’ consumiram a outra parte do cultivo.
Os apelos aos apoios por parte das autoridades são as palavras ouvidas dos velhos que se encontravam no local onde “O Democrata” esteve e manteve uma conversa com o jovem Malam Cassamá, que considera terem ficado de mãos a abanar. A bolanha era a esperança deles, mas as cheias estragaram toda a cultura do arroz nas bolanhas. Disse que estavam com muita fome mas que não tinham nada para comer. O jovem disse ainda que estavam a dar um jeitinho enquanto esperavam a abertura da nova campanha da castanha de cajú para ver se poderão superar a situação.
Um comerciante já distribuiu uma tonelada de arroz a algumas famílias como empréstimo para ser pago no período da comercialização da castanha de cajú, mas a quantia não chegou para as mais de oitocentos (800) habitantes daresalamenses que estão divididos em 92 famílias.
Depois dos estragos nas bolanhas, os técnicos do ministério da agricultura deslocaram-se ao local e prometeram um apoio à população, garantias que não se concretizaram ainda. Mesmo assim a comunidade daresalamense mostrou-se disponível e aguardará a resposta do ministério da tutela.
“Pedimos o apoio do governo à comunidade daresalamense através do ministério da Agricultura. Daresalam é um centro de seção. Temos aqui muitos alunos que estão a estudar, de primeira a nona classe. Quase todas as tabancas vizinhas estudam aqui, sabemos que um estudante não pode ler e compreender a matéria, estando com fome. São muitas pessoas em risco de fome. Nem as bolanhas, nem o campo nos deram frutos este ano”, lamentou Malam Cassamá à reportagem de “O Democrata”.
Daresalam recebeu três tubos para os trabalhos de recuperação dos diques. Dois já foram instalados faltando um.
A bolanha de Daresalam é cultivada pelas povoações de Gã Nafa, São Martinho, Gubía e Paunco. No que tange ao fecho da referida bolanha ou reconstrução dos diques, Cassamá disse que há mais de cinco anos que pediram o estado guineense que diligenciasse uma máquina para melhor construirem os diques, fato que não aconteceu até então. Avançaram que os engenheiros foram fazer levantamentos e aprovaram que a máquina poderia deslocar-se ao local, pedindo apenas a população que construisse uma via de acesso.
COLHEITA POSITIVA NA ALDEIA DE PAIUNCO
Já na tabanca de Paiunco a colheita correu bem, exceto algumas situações de danos provocados pelos animais, como a “farfana” e os macacos. A população considera o ano agrícola de positivo.
Porém a cultura nas bolanhas é quase nula devido a situação em que se encontram há muitos anos, danificadas pelas águas salgada, o que obrigou a povoação de Paiunco a adotar a lavoura de arroz do campo ‘Mpampam’ como alternativa.
Aquando dos estragos das águas salgada a comunidade informou às autoridades que até então não responderam aos apelos dos paiunquenses.
O jovem Mussá Malam Djassi disse que a produção agrícola, pelo menos, dá para cobrir a sobrevivência durante quatro meses do ano, depois da sua colheita.
Sobre a renda da venda de castanha de cajú, Djassi sublinha que utilizaram os referidos rendimentos na aquisição do arroz e na melhoria das suas casas.
A reportagem de “O Democrata” encontrou, na tabanca de Paiunco, um grupo de crianças a brincar com alegria estampada nos rostos. A nossa equipa ficou com vontade de registar aquele momento através numa fotografia.
GADO REPRESENTA AMEAÇA PARA AS LAVOURAS DE KÃ DE ESTRADA
Na aldeia de Kã de Estrada (Bijmita), as vacas provocam danos nas culturas de campo, assim como nas de hortaliças. Para as proteger, as bijmitenses recorrem ao corte de pequenos paus para evitar os danos dos animais.
Em Gã Dúa, as bolanhas onde se cultiva o arroz está invadida por erva selvagem chamada de “palha brava” o que obrigou alguns camponeses a mudarem para outros lugares que oferecem melhores condições para o cultivo daquele que constitui a base alimentar dos guineenses.
Os populares consideram que se a bolanha de Kã fosse recuperada iria cobrir as necessidades da maior parte dos habitantes daquela zona.
Dinis Ié, nascido em Biombo, mas atualmente residente em Kã de Estrada, lembrou à nossa equipa de reportagem que decidiu mudar-se para àquela localidade, sul da Guiné-Bissau, depois de ter visitado um seu cunhado (marido da sua irmã) que já tinha fixado a sua residência na região de Quinara.
Mas logo se apercebeu da fertilidade da zona no que refere a prática agrícola e optou por mudar definitivamente para Kã de Estrada ou se proferir Bijmita.
“Quando mudei para cá ouvi falar da fama que a bolanha de Kã tinha, na produção de grandes quantidades e qualidade de arroz, mas desde a sua queda nos anos 90 até aqui só recebemos promessas da sua recuperação. A bolanha faz muita falta à população da zona”, frisou Dinis Ié, que acrescenta ainda, que na altura que a bolanha era cultivável não havia fome na zona.
Bijmita também foi vitima da praga de gafanhotos que estragaram as culturas de mandioca, laranjas e outros cultivos. Kã de Estrada possui mais de duzentas pessoas e conta com cerca de oito famílias residentes no local.
Em Bijmita, o apelo ao governo não ficou de lado nas palavras dos populares. Pediram ao executivo da Guiné-Bissau ajuda no fecho daquela bolanha, para torná-la novamente cultivável.
Já na aldeia de Kã de Dentro, a nossa reportagem encontrou uma tabanca quase em total silêncio, devido ao falecimento de um familiar em Biombo (a maior parte dos habitantes daquela localidade são originários da Região de Biombo) e as pessoas deslocaram-se à referida região para assistir às cerimônias fúnebres da malograda.
Augusto Cá que chegou a Kã de Dentro nos anos 80 quando a bolanha de Kã ainda era o “ninho de ouro” da região de Quinara, recordou o bom ambiente que se vivia na altura, que havia uma produção aceitável de arroz naquela bolanha, assim como da quantidade de peixe que a lagoa de Kã oferecia ao setor de Empada.
A pesca artesanal aparece como alternativa prioritária às dificuldades do ano agrícola findo.
Cá afirma que havia maior número da gente até finais dos anos noventa, mas com a queda da bolanha a maioria viu-se obrigada a se refugiar noutras paragens em busca de uma vida melhor. Na visão de Augusto Cá, se o Estado recuperasse aquela histórica bolanha de Kã, a produção de arroz melhoraria, assim como haveria muito peixe na Região de Quinara que outrora vendia até ao leste do país.
A bolanha de Gã Dúa é a alternativa para os habitantes de Kã, custando 20 mil francos CFA o arrendamento de um espaço, enquanto as suas bolanhas esperam pela recuperação.
De acordo com informações disponíveis, a bolanha de Kã foi encerrada pela cooperação chinesa, o que permitiu a sua proteção contra a entrada de água salgada na década 80. Kã de Dentro, ou seja, a área de pequeno Biombo tem 150 habitantes e conta com 12 agregados familiares.
Kã, dentro concretamente na zona onde habitam os descendentes de Biombo, não tem um poço de água potável para o consumo humano, obrigando os autóctones a percorrerem quilômetros e quilômetros para conseguir água potável. Foram os gritos de socorro das mulheres residentes na tabanca que viu nascer o falecido Presidente da República Malam Bacai Sanhá.
A região de Quinara é onde funcionou a primeira escola da zona libertada, durante a guerra colonial, atualmente denominado “25 de Maio” onde, inclusive, estudou Malam Bacai.
Os quinarenses queixaram-se bastante das péssimas condições das vias rodoviárias da região, tendo como conseqüências os preços elevados praticados pelos transportadores que operam naquela via do Sul da Guiné-Bissau.
Também foram afetadas as bolanhas de Itudumbú, São Miguel, Aidará e Pobreza. As cheias verificadas no sul alastraram-se um pouco por todo o país foi inédita, conforme os relatos dos anciões das aldeias por onde passou a reportagem de “O Democrata”, mas uma fonte do ministério da Agricultura na região garantiu que a sua instituição fará uma fiscalização rigorosa das bolanhas no que se refere aos diques, para evitar danos do gênero no próximo ano agrícola 2016.
Por: Sene Camará
Colaboração: Cesário Quartel da Silva