sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

EDITORIAL: SONHOS E DESESPERANÇAS NO MEIO DE CRISES…

A hora deve servir também ao PAIGC para fazer uma reapreciação das suas atitudes musculadas, a forma como o seu líder pretende comandar, à força, com imposições nunca dantes vistas… Para demonstrar o quê que nunca foi visto no PAIGC?

Eu me lembro. Recordo os momentos primeiros da independência nacional desta minha Pátria amada. Nos bairros, nas tabancas, secções, sectores e regiões viveu-se a reconversão, a adaptação ao novo estilo, a nova forma de vida social, política, económica, entre outras, que os “camaradas” introduziram no novo estado livre e independente.

Para os jovens, devido à sua natureza, as novidades não foram difíceis de assimilar porquanto as organizações de massas do Partido trabalhavam afincadamente em todos os setores da vida nacional de modo a permitir a reorientação da sociedade de acordo com os princípios e os planos da força política dirigente. O desígnio essencial era conduzir o país ao progresso e desenvolvimento. E todos trabalhavam para isso. É verdade que houve casos de excessos, aqui e ali, uns controlados outros não.  

Camarada era o termo mais usado no relacionamento, um termo que “quase” igualava chefes e subordinados. “Quase” porque, não chegava a tanto porque a disciplina funcionava rigidamente e não dava azo a veleidades no tratamento dos “camaradas responsáveis e dirigentes”. Havia o tal “rispitu” subjacente as relações nos diferentes níveis… No Partido, nas organizações de massas, procurava-se, ao máximo, evitar a tolerância face aos erros sistemáticos não obstante a política da recuperação do homem que vigorava.

Mesmo não gostando do trato igualitário, “Camarada”, a diferença estava lá, presente entre os cidadãos. Há 42 anos era assim. Num pequeno lapso do tempo, as coisas funcionavam seguindo algumas regras que, lamentavelmente começariam a deteriorar-se com as mudanças que se operavam na sociedade, nos grandes centros urbanos, no país em geral.
Ao ser hasteada em toda a extensão do território nacional, a bandeira da estrela negra elevou milhares de esperanças que anteviam dias novos, sobretudo, dias de unidade, luta e progresso, dias diferentes dos vividos durante os 500 anos do colonialismo. Muitos sonhos habitaram os guineenses, sonhos de todos os tipos. Enfim, cada um vivia o seu sonho e dentro dele, livre, “pulava e avançava” para o desconhecido sempre animado da secreta esperança de, no futuro próximo, ver dias melhores, de tranquilidade, de vivência pacífica com os seus próximos mas, infelizmente, não tem sido o caso.

As melhores expectativas foram defraudadas e tudo o que se consegue hoje em dia é alimentar uma nesga de esperança enquanto, intimamente, se vive à sombra dos dias mais edificantes do passado em que tudo se fazia enquanto se aguardava a concretização das melhores promessas, as mais áureas, para o devir.

O triste hoje, é que as esperanças doem porque lá, ao longe, não se vislumbra qualquer cintilação no fundo do túnel (leia-se futuro próximo) suscetível de lhes dar o brilho animador necessário para fazer recuar o pessimismo, a impotência, e fazer vincar a expectação. Mas, mesmo assim, teimosamente o guineense ainda anima-se, recarrega as suas energias com pensamentos positivos porque no fundo da sua alma acredita que um dia algo há de mudar nesta bendita terra pode não presenciar essa mudança mas os seus descendentes certamente vivê-la-ão.

É essa carga de energia que abrilhanta as esperanças que os sonhos carregam, que tem impulsionado o guineense a votar sistematicamente numa formação política que durante toda a sua existência tem vivido de crise em crise

Entretanto, os políticos vão animando a vida nacional com os seus desaguisados, as suas controvérsias que só a confusão pode explicar; o desrespeito aos órgãos de soberania e às leis nacionais; o oportunismo barato; a transformação do jogo político em padrões futebolísticos em que cada um e cada grupo defende as suas cores por “amor a camisola”.

E lá vão as chusmas organizadas cantando e rindo em manifestações; os grupinhos improvisados para servir interesses obscuros e inconfessos; os comentaristas recrutados para defender “camisolas” em detrimento da verdade nua e crua dos factos… E… e, para cúmulo do caricato assistimos à revalorização do Primeiro Magistrado da Nação com apelos à sua intervenção para promover o entendimento entre os desavindos. Tudo, como recorda muita gente, depois de ter sido profusamente maltratado e vilipendiado durante horas a fio nas rádios no parlamento e algures apontando-lhe todos os defeitos possíveis e imagináveis… Mas, contudo a hora é de perdão e de procura de soluções para os problemas que incendeiam a crise. A hora deve servir também ao PAIGC para fazer uma reapreciação das suas atitudes musculadas, a forma como o seu líder pretende comandar, à força, com imposições nunca dantes vistas… Para demonstrar o quê que nunca foi visto no PAIGC?

Nesta hora, em que todos os cenários pessimistas são apontados, a concórdia entre todos é a melhor via que se pode seguir para que a paz social e a estabilidade voltem a reinar.

"QUEM NÃO ENTENDEU ISSO, NÃO ENTENDEU NADA AINDA" diria Abel Djassi.