Por: Umaro Djau, via facebook
Caro colega da TV guineense, Tony Góia—
Independentemente da nossa frustração nacional face à vergonhosa governação do país desde a sua independência, esta ideia de solicitar as Nações Unidas para governarem a Guiné-Bissau durante os próximos cinco anos não tem pernas para andar, por vários motivos.
Em primeiro lugar, a criação do Conselho de Tutela das Nações Unidas foi exclusivamente para monitorizar a descolonização e garantir a paz e a segurança internacional nos territórios que estavam em disputa depois da II Guerra Mundial. Esses 11 territórios do mundo (7 no continente africano e 4 na Oceânia) foram postos sob à administração temporária deste órgão da ONU nesse quadro.
E, hoje em dia, este chamado Conselho de Tutela das Nações Unidas embora continue a existir no papel, as reformas propostas por Kofi Annan em 2005 propunham a sua eliminação total.
A sua missão de facilitar o processo da independência dos estados que estiveram sob a tutela da ONU (ou da Liga das Nações) foi cabalmente cumprida em Novembro de 1994 com a independência de Palau (no Oceano Pacífico). E foi também nesse quadro que a Namíbia ganhou a sua independência da África do Sul em 1990.
Portanto, meus caros guineenses, e com todo o respeito ao técnico da TV guineense Tony Góia, é muito pouco provável que uma tal proposta signifique alguma coisa no actual quadro do Sistema das Nações Unidas.
Até porque o Conselho de Tutela das Nações Unidas só ainda não foi eliminado porque uma tal medida exigiria a revisão da Carta da ONU. Como podem imaginar, muitos países fortes da ONU (e sobretudo os do Conselho de Segurança) alegadamente não estão interessados para que isto aconteça por recearem alguma perda dos seus poderes – poderes esses que aliás são mais proporcionais à historia mundial (e colonial) do que à realidade política e económica actual.
A Guiné-Bissau precisa de tudo, menos da ocupação de uma força multi-nacional, seja ela a ONU ou qualquer outra transregional. E eu ainda acredito que tenhamos muita gente capaz de contornar a actual situação política e económica do país. Todavia, é preciso criar oportunidades para todos os cidadãos guineenses, de uma forma igual.
Cordialmente,
Umaro Djau, 8 de Março de 2016
**Com outras agências, incluindo a ONU e Wikipedia