Actualizado às 12:06
Vira o disco, toca o mesmo! O principal ponto da discórdia e de
divisão interna no PAIGC e por implicação atinge a sociedade e às famílias
guineense, é, no meu entender, a necessidade de esclarecer os assassinos
ocorridos na nossa terra em 2009. Sobre esta iniciativa há duas grandes
tendências: por um lado, os que se posicione à favor e, do outro, os do contra.
José Mário Vaz, Presidente da República, teve encontro no dia 2 de Setembro no
Palácio Presidencial com 67 altos graduados do exército oriundos de diferentes
unidades do país. Consta que, nesse encontro, o Presidente Vaz “explicou
detalhadamente as razões da sua pretensão em libertar os detidos do caso 21 de
Outubro de 2012”. Dizia-se, inclusivamente, que a sua decisão visa promover a
“reconciliação entre os militares assim como no seio da família guineense”. Não tive acesso às fundamentações teóricas do Presidente da
República, mas presume-se de que lado estaria, diante, portanto, de uma
situação que esperava dele uma posição firme, legal e humana.
Que eu saiba, não existe zanga entre os militares e muito menos no
seio da família guineense. Existem, sim, correntes de
pensamento antagónicas na classe política nacional que se digladiam,
como dizia, para que se faça, ou não, luz aos acontecimentos de 2009. O
levantamento militar de 1 de Abril de 2010, evidenciou os antagonismos
existentes no seio do partido libertador e na sociedade em geral sobre esse
assunto. Os relatos do jornalista da PNN, Rodrigo Nunes, sobre os riscos que o
ex-Primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior, corria evidenciavam essa realidade.
Segundo o jornalista, Cadogo Jr., era ameaçado “(…) até por deputados do PAIGC
afetos ao reduzido grupo «anti-Cadogo»(…)”. O jogo de empurra entre as duas
magistraturas, civil e militar, sobre “quem tem competência” para julgar “os
processos”, mostrava como a divergência se alastrou no seio das outras classes
profissionais, e não só, do país. Em Junho de 2010, o Partido da Renovação
Social (PRS) instara o ex-chefe de Estado, Malam Bacai Sanhá a revelar nomes
dos políticos envolvidos nos assassinatos de Nino Vieira e Tagme Na Waié. Em 19 de Agosto do mesmo ano, o ex-Presidente
Sanhá, após a recessão de um grupo de pessoas, familiares e amigos de
dirigentes políticos e militares, pediu paciência e jurara que nem que a
decisão tivesse que custar a sua vida, os assassínios de dirigentes do país
ocorridos em 2009, entre os quais o do seu antecessor, João Bernardo 'Nino'
Vieira, teriam que ser esclarecidos. O ex-chefe de Estado viria a falecer em
Paris, no dia 9 de Janeiro de 2012, sem que o Ministério Público tivesse
avançado um passo sequer nessa matéria.
Ora, porquê que quando se aborda esses assuntos (esclarecimento dos
assassinatos políticos), Carlos Gomes Júnior e os seus seguidores e
admiradores, tremem e se esperneiam? Creio que resposta nos possa conduzir à
origem da propaganda e campanha contra as nossas forças armadas e não só. É
que, na sequência do levantamento de 1 de Abril de 2010, o
ex-Primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior, tinha ausentado do país, por cerca
de três semanas, tendo passado por Cuba, França e Portugal. Tendo em conta o
receio que envolvia o seu regresso ao país, Rodrigo Nunes escreveu: “(…) o Primeiro-Ministro guineense tem sido ameaçado de morte,
de prisão e de participação nos crimes que mancharam a história recente do
país. Mas apesar da intensa pressão interna, Carlos Gomes Júnior mantém-se
determinado em regressar ao país e em efetuar uma remodelação governamental”.
Pois, o problema é que eles próprios “enfiaram a carapuça”! E terá sido,
justamente, nessa altura que Cadogo Jr., resolveu lançar mão do prestigio que
gozava em sede de certa comunidade internacional (entenda-se CPLP) para
contra-atacar. Para os países da língua portuguesa Carlos Gomes Júnior era o
único interlocutor verdadeiramente reconhecido. Por parte dos seus apoiantes e
seguidores, começou a despoletar, como dizia Nunes, a vontade de adoção de
medidas radicais. Dizia: “Este Governo do PAIGC conquistou, com provas
dadas, a comunidade internacional, pelo que esta observa com desagrado as
estratégias mal camufladas para promover o seu afastamento. E, em relação às
ameaças contra Cadogo Jr., apontava o dedo acusador a uma situação de
subordinação, pela coação das armas, do poder político ao militar, com o alto
patrocínio do Presidente da República, Malam Bacai Sanhá”.
Para combater, então, a corrente empenhada na luta pelo
esclarecimento dos assassinatos, Cadogo Jr., e seus seguidores, começaram, por
um lado, a enviar nomes de altas figuras para o departamento de Tesouro
Americano, a solicitar o reforço da presença dos EUA na sub-região, estreitando
relações com Cabo Verde no chamado combate ao narcotráfico, a pressionar a
França e a Espanha para reclamar junto a Bruxelas medidas urgentes contra o
trafico de droga. E, por outro lado, desencadearam uma campanha de difamação
contra o Presidente Sanhá, citando seu suposto envolvimento direto nos
acontecimentos de 1 de Abril, a sua obsessão pelo controlo do Governo e do
PAIGC e a sua vontade de agradar os países como o Senegal e Marrocos, mesmo com
direto prejuízo dos interesses nacionais da Guiné-Bissau, o que, para eles, tem vindo a refrear as boas intenções de
alguns parceiros internacionais. Dizia-se também
que Sanhá, em um ano de mandato, acabara por sobressair internacionalmente pela
negativa, visto que criara uma espécie de “governo sombra” com conselheiros
para todas as áreas de governo, com vencimentos equivalentes ao de Ministros.
Pergunto: será que foi dessa “guerra” que o Presidente Vaz
esclareceu aos 67 altos oficiais militares no Palácio Presidencial, no dia 2 de
Setembro? Na minha perspetiva, anterior a qualquer iniciativa de
“reconciliação”, a questão prioritária, neste preciso momento, seria de saber
se os assassinatos ocorridos em 2009, serão, ou não, esclarecidos.
Doka Internacional