O número de agregados familiares de classe média em África cresceu 230% em 14 anos, de acordo com um estudo agora divulgado pelo Standard Bank, que diz que a narrativa sobre o crescimento africano é real - mas exagerada.
«Embora o grau de crescimento da classe média em ascensão tenha sido, acreditamos, um pouco exagerado em linha com a narrativa por vezes sufocante do Crescimento Africano ['Africa Rising', no original em inglês], ainda há bastante margem para otimismo sobre o tamanho da classe média em várias economias determinantes na África subsariana», explica o economista Simon Freemantle, do Standard Bank, um dos mais importantes bancos a operar em África, que divulgou o estudo.
O relatório, a que a imprensa teve acesso, percorre onze economias consideradas fundamentais para o futuro de África, entre as quais Angola e Moçambique, e conclui que este ano há 15 milhões de lares na classe média, quando em 2000 havia 4,6 milhões e em 1990 havia apenas 2,4 milhões - medidi usando a Medida de Padrão de Vida (Living Standards Measure, no original).
Esta metodologia desenvolvida na África do Sul analisa não o rendimento mas sim o consumo das famílias, considerando que gastos abaixo dos 5500 dólares por ano são de uma família de classe baixa, ao passo que as famílias que gastam entre 5500 e 42 mil dólares por ano estão na classe média.
O documento, de 81 páginas, e com o título 'Compreendendo a classe média de África', explica que o total do PIB de onze economias - Angola, Etiópia, Gana, Quénia, Moçambique, Nigéria, Sudão, Sudão do Sul, Tanzânia, Uganda e Zâmbia - cresceu dez vezes nos últimos 14 anos, mas acrescenta que as discrepâncias de rendimento são «enormes».
Para Simon Freemantle, que coordenou o estudo, os investidores devem estar otimistas relativamente ao futuro do continente e às possibilidades de negócio, porque, «incluindo os lares na classe média-baixa, o número dispara para os 40 milhões em 2030, quando hoje é 15 milhões». O número de 300 milhões de africanos na classe média resulta de um estudo do Banco para o Desenvolvimento Africano, apresentado em 2011 e que inspirou célebres capas das revistas Time e Economist, ambas com o título 'Africa Rising', e que define a classe média como as pessoas que ganham entre quatro e 20 dólares por mês.
«Essas pessoas estarão ainda excecionalmente vulneráveis aos vários choques económicos, e propensas a perder a posição de rendimento médio», considera o economista, que reconhece, no entanto, que, independentemente da metodologia que se use, existe uma «inegável expansão» da classe média africana. «Dados confiáveis e comprováveis devem, em todo o caso, aumentar o interesse no potencial de consumo no continente, adicionando profundidade às conjeturas anteriores», vinca o autor do estudo, que conclui dizendo que, «apesar de ter havido um significativo aumento no rendimento dos africanos, é claro que uma maioria substancial das pessoas na maioria dos países que analisámos ainda vive ou na linha pobreza ou abaixo dela», ou seja, recebendo menos de dois dólares por dia. Fonte: Aqui