Lisboa - O projecto Tabanca Solar instala soluções de aproveitamento solar em aldeias da Guiné-Bissau, amigas do ambiente e de baixo custo, permitindo a milhares de habitantes acesso a iluminação, forno ou desidratador de fruta, uma ideia agora premiada.
A 7.ª edição do Prémio Terre de Femmes em Portugal, promovido pela Fundação Yves Rocher, distinguiu a presidente do Tabanca Solar, Inês Rodrigues, pelo trabalho para possibilitar a iluminação de casas, a confecção de refeições e a conservação de alimentos sem a utilização de fios eléctricos.
A responsável pela organização não governamental de desenvolvimento (ONGD) Educafrica recebe mil euros e fica na corrida ao Prémio Terre de Femmes Internacional, no mesmo valor, assim como ao Prémio do Público, com votação online, foi hoje anunciado em Lisboa.
O projecto Tabanca (aldeia) Solar visa "dotar aldeias com tecnologia solar tornando-as energicamente sustentáveis, preservando o ambiente e os recursos e promove a capacitação dos habitantes locais para a sua manutenção [assim como] a formação de profissionais nas áreas da saúde e educação".
Perante as carências dos habitantes de aldeias da Guiné-Bissau, com casas escuras, com formas de cozinhar que implicavam a recolha de lenha por crianças, impedidas de frequentar a escola uma parte do dia, e sem solução para conservar fruta, mas com muito sol, aquela professora e formadora quis fazer alguma coisa e criou a Educafrica.
Iniciou uma troca de ideias para chegar a soluções que os professores e formandos do Centro de Formação Profissional da Indústria da Construção Civil e Obras Públicas do Norte (CICCOPN), o parceiro para a parte técnica, concretizam.
"Colocamos desafios aos formandos para encontrar soluções energeticamente sustentáveis, feitas com materiais reutilizáveis, que possam ser encontrados em qualquer local do mundo e que sejam de baixo custo para as famílias", explicou Inês Rodrigues.
A gota de luz é, descreveu a professora, o projecto mais emblemático, já com reconhecimento pela Comissão Europeia, e reutiliza garrafas de água, que eram deitadas fora ou vendidas, com um sistema de vedação próprio para fazer lâmpadas solares que captam energia até 40 watts.
Existe uma lista de espera para receber a gota de luz em África. "É espantosa a reacção das pessoas quando vêem a luz nas suas casas", realçou.
O desafio para 2016, avançou Inês Rodrigues, é desenvolver "um sistema simples que consiga fazer com que a lâmpada solar funcione durante a noite". Estas lâmpadas "estão a ser colocadas diariamente e, em 2015, estavam em três aldeias, num total de 800 pessoas abrangidas".
Com o forno solar, "as pessoas podem comunitariamente fazer as suas refeições e está a ser utilizado pelos centros de saúde locais para esterilização de utensílios", encontrando-se em duas aldeias, com 1.500 pessoas, disse ainda.
"Desenvolvemos um sistema adaptado a África, neste caso foi uma turma de fotovoltaico [do CICCOPN] que fez, totalmente portátil e está até agora instalado em cinco centros materno infantis na Guiné-Bissau", para uma população de 4.000 pessoas, referiu Inês Rodrigues.
O outro projecto da Educafrica, ainda em desenvolvimento, é o desidratador solar e surgiu de um desafio de um dos parceiros do projecto, a Lipor, para encontrar uma forma de combater o desperdício alimentar.
"Em África, durante seis meses existe fruta em abundância, mas nos outros não e a população não tem electricidade para conservar", desenvolveram um desidratador solar que em "seis a oito horas consegue desidratar cerca de três quilos de fruta que pode ser consumida nos dois anos seguintes, totalmente livre de químicos", explicou.
Estas soluções adaptam-se a qualquer parte do mundo e, por exemplo, as lâmpadas solares estão em Portugal, nomeadamente em abrigos agrícolas e numa casa da horta biológica da Lipor, que pode ser visitada. Fonte: Aqui