O Conselho Constitucional prestou um mau serviço ao partido no poder. As indicações no terreno mostram, por A mais B, que a derrota é um dado adquirido para o partido de Armando Emílio Guebuza. As detenções arbitrárias e as constantes perseguições aos adversários políticos da Frelimo protagonizados pela, pasme-se, Polícia da República de Moçambique, demonstram claramente que a anulação do processo foi um golpe no baixo ventre da maior e mais antiga formação política do país.
As multidões que seguem o candidato do MDM revelam o quão pútrido é o Conselho Nacional de Eleições (CNE). Em Gúruè torna-se evidente que houve a tentativa de falsear a verdade das urnas e que se as eleições forem justas a Frelimo será literalmente varrida do mapa político municipal. Ou seja, será oposição e com uma minoria que roçará, depois da trapaça de 20 de Novembro, a uma vergonha do tamanho do orçamento da nova sede da Presidência da República de Moçambique.
Não há, sem ser pela burla e pela trapaça, hipótese alguma de a Frelimo sair reforçada deste processo. A acção da Polícia e a forte presença de efectivos estrangeiros no quotidiano da pequena urbe revelam muito nervosismo. Há polícias que andam de um lado para outro à procura de alojamento, numa urbe que nunca viu tantos “estrangeiros” juntos. Há um povo revoltado e que se sabia burlado pela divulgação de um resultado que não traduziu aquilo que ele escolheu.
Analisando os dados e a vontade de extirpar, tal como um cancro, a Frelimo do poder só podemos concluir que o Conselho Constitucional prestou um mau serviço à Frelimo. Repetir o processo, sabendo-se em manifesta desvantagem, só desgasta a imagem de um partido que o povo quer expurgar. Lutar contra a vontade popular com recurso aos truques de sempre é desgastaste e perigoso.
E só pode submeter a um exercício de ridicularização quem o detesta. O Conselho Constitucional podia poupar a Frelimo da vergonha deste sábado e também poderia ter poupado o possível derramamento de sangue. Os homens da FIR armados até aos dentes e com caras de poucos amigos não estariam aqui. Era muito mais fácil declarar a derrota da Frelimo e de Guebuza.
Era bem mais fácil porque, se o fizessem, só perderiam uma vez e ficavam com a mancha da vergonha; agora, nos actuais moldes, a vergonha será triplicada e a derrota bem mais vexatória. Esperemos que não roubem e que não usem balas para dispersar um povo sedento de mudança. Afinal, como disse o outro, o povo é quem mais ordena. Portanto, esqueçam a perpetuação do poder porque governar não pode ser um prémio que se dá aos mestres da burla. Tem de ser reflexo da vontade popular.