Hoje - volvidos pouco mais de seis meses de conflito armado que eclodiu na região centro e se alastrou, qual uma praga, pelo país inteiro - parece que ninguém tem dúvidas de que, quando os políticos não têm juízo, o povo é que paga. Ao longo do tempo, o maior partido da oposição, de forma obtusa, jogou tudo na sua vingança, esquecendo-se do bem-estar do povo que, como sempre, vai na conversa de promessas que são feitas por quem nunca as poderá cumprir. Já o partido no poder, valendo-se da maioria absoluta parlamentar, continua indiferente ao eleitor, aos moçambicanos e à opinião pública.
Indubitavelmente, os próximos dias continuarão a ser muito sacrifício para as populações que se viram forçados a abandonar o sossego das suas humildes casas por causa da ambição desmedida de duas pessoas. Os políticos que hoje temos são um verdadeiro perigo público. São vampiros políticos que medram à custa do sofrimento e do generalizado subdesenvolvimento dos moçambicanos.
Não são capazes de sair dos seus covis e não têm a humildade suficiente para admitir que são a causa da instabilidade política e da desgrenhada miséria que asfixia milhões de moçambicanos. Numa palavra, os políticos que temos por aí são os principais produtores da pobreza e de pobres em massa.
Os moçambicanos continuam a ser reduzidos a simples bestas de carga. Não há espaço para o diálogo. E, muito menos, há lugar para rectificar o que está mal. Nem hoje, nem amanhã. Na verdade, nos tempos que se seguem, colocar o interesse do país antes das rivalidades pessoais e partidárias parece utopia. Mas não devia parecê-lo.
Porém, inesperadamente, depois de três meses sem diálogo, as negociações entre o Governo de turno e a Renamo retomaram. Curioso: as duas delegações chegaram pela primeira vez a um entendimento. Mas esse facto não passa de um teatro mal encenado, pois é indiscutível que é quase impossível humanizar o líder da Renamo e o Presidente da República.
Agora, na hora dos apertos de mão e dos sorrisos cínicos, ninguém contabiliza as vítimas da insanidade, ninguém fala do material bélico que atravessou Maputo e foi anichar-se à beira da serra de Gorongosa. O esforço desencadeado para matar o outro foi relegado para o sótão do esquecimento, os desterrados da vossa estupidez colectiva não contam. Constituem, no vosso exercício de hipocrisia, vítimas colaterais do progresso.
Curiosamente, depois de jorrar litros de sangue, a Renamo prepara-se para concorrer em força nas próximas eleições. O recenseamento foi adiado para acomodar o maior partido da oposição. Só mesmo num país que não vale nada é que o sangue rega a terra para perpetuar a indigência do povo. Hipócritas!