Catherine Samba Panza, eleita Presidente da República Centro-Africana, a 20 de Janeiro, esteve em
Brazzaville, na sua primeira visita de Estado.
A escolha percebe-se,
facilmente. O Congo Brazzaville desempenhou um papel importante, na mediação da
crise na República Centro-Africana.
Encontrou-se com o seu
homólogo congolês, Denis Sassou Nguesso e, durante a estadia, concedeu uma
entrevista à euronews.
euronews: Senhora
presidente, há alguns dias, o Tribunal Penal Internacional iniciou um
procedimento de investigação, por crimes de guerra, na República
Centro-Africana. Vai dar o seu apoio aos investigadores, do tribunal?
Catherine Samba Panza: O
procurador do Tribunal Penal Internacional informou-me deste procedimento e
solicitou o apoio do Governo centro-africano neste processo. Garanti-lhe esse
apoio.
EN: E se, no futuro, os
investigadores de Tribunal vierem a deter ou interrogar os militares,
continuará a dar todo esse apoio aos inquiridores?
CSP: A justiça vai fazer o
seu trabalho. Não haverá qualquer interferência entre o poder executivo e o
judicial.
EN: E se os políticos
mais importantes vierem a ser presos?
CSP: Todos devem responder
às questões que lhes forem colocadas. É tudo. Algumas personalidades partriciparam
em atos repreensíveis e responderão por esses atos. Não tenho que proteger, nem
a mim, nem aos corruptos que levaram o país para a situação que conhecemos,
neste momento. Eu não protejo ninguém. Cada um responderá pelas suas ações,
perante o Tribunal Internacional.
EN: Precisa de mais
tropas? Tropas francesas, tropas da União Europeia, tropas da União Africana…
CSP ….Muito.
EN.. ou tropas das
Nações Unidas?
CSP: É preciso tirar
vantagem desses homens. Daí, o meu apelo para a implementação de uma operação
de manutenção de paz. Acho que temos de ser realistas. Não temos homens
suficientes, para estar em toda parte, em áreas sensíveis, onde há, realmente,
insegurança. Realisticamente, precisamos de mais tropas. Temos tropas europeias
que operam ao nível do aeroporto. Isso vai libertar mais tropas operacionais,
do exército francês. Mas mesmo libertando as tropas operacionais francesas, as
tropas europeias não podem ir para outros locais. A experiência mostrou-nos
que, quando as tropas africanas de monitorização e o exército francês se
retiraram de algumas zonas, houve abusos. Por isso, precisamos de tropas, em
todo o território.
EN: Quanto tempo será
necessário, para restaurar a segurança, em Bangui, a capital?
CSP: Um mês.
EN: É a sua prioridade,
desarmar todas as milícias?
CSP: Há tantas armas no
país que vai ser uma operação difícil. Mas existe uma vontade determinada de
desarmar todas as milícias.
EN: Por quê tanta
violência, entre cristãos e muçulmanos, essas cenas de pilhagem, linchamentos,
assassinatos, que vimos entre duas comunidades que, até então, viveram em
harmonia?
CSP: Temos, como principal
causa, a pobreza. Há muita, muita pobreza. Jovens sem emprego que são
facilmente manipulados. E há políticos sem escrúpulos que têm usado estas
sensibilidades, para alcançar determinados fins. Infelizmente, por muito tempo,
isso afetou muçulmanos e cristãos. É uma realidade.
EN: Será necessário que
o país passe por um processo de reconciliação nacional?
CSP: É preciso um processo
de reconciliação. A reconciliação nacional será o culminar de um trajeto, feito
passo-a-passo. Eu acredito, num processo que comece na base, no diálogo
inter-comunitário, que reaproxime os centro-africanos, que os faça conviver. Um
dia, vai haver diálogo nacional e isso será a conclusão deste processo que
queremos pôr em prática. É inútil fazer uma terapia de grupo se, na base, as
pessoas não se entenderem e forem incapazes de viver juntas.
EN: Que resposta daria,
aos que dizem que o país caminha para uma inevitável divisão?
CSP: Eu não cederei
qualquer centímetro do meu país. Condeno, veementemente, as ambições
separtistas, na República Centro-Africana. E avisei as pessoas que queriam
fazer essa repartição que iam encontrar-me, no seu caminho.
EN: A comunidade
internacional saudou a sua eleição, os países vizinhos congratularam-se com a
sua eleição, a União Africana congratulou-se com a sua eleição. Como é que o
país vai sair desta crise tão grave que o dilacera?
CSP: Os problemas são
reais. Os desafios são imensos. As expectativas das populações são, também,
importantes. Existem muitas necessidades não satisfeitas. Eu não posso
satisfazer essas necessidades, num prazo de quinze dias. Dito isto, estou
ciente dos desafios que me esperam, estou ciente das esperanças que foram
colocadas em mim e também digo que tenho a obrigação de apresentar resultados.
EN: É a terceira mulher
eleita para a chefia de um estado africano. No entanto, é uma mulher eleita
para chefe de um estado africano que está, hoje, destroçado, imerso em
violência. É uma vantagem, ou uma desvantagem ser mulher nesta posição?
CSP: É uma mais-valia.
Orgulho-me desse ativo. A minha fibra feminina, a minha fibra maternal
permitem-me abordar algumas questões, com muita sensibilidade e grande
realismo. Terei muitas dificuldades à minha frente – eu sei – mas, no fundo,
acho que o objectivo será atingido.