Em 2003, "como responsável pelas relações internacionais do PS",
disse ao secretariado do seu partido que era o momento de "levantar as
objecções" à entrada do MPLA na Internacional Socialista.
A eurodeputada socialista Ana Gomes afirmou sentir-se traída pelo MPLA,
depois de ter ajudado à integração na Internacional Socialista do partido no
poder em Angola.
Intervindo no gabinete do Parlamento Europeu em Lisboa, Ana Gomes afirmou,
esta sexta-feira, que já houve "tentativas subtis" por parte do MPLA
de comprar o seu "silêncio e passividade" em relação aos direitos
humanos em Angola. A eurodeputada participava na sessão Diamantes,
Milionários, Violência e Pobreza nas Lundas, juntamente com o jornalista
angolano Rafael Marques e dois angolanos residentes na região diamantífera
angolana que foram testemunhas de alegados abusos de direitos humanos.
Ana Gomes recordou que em 2003, "como responsável pelas relações
internacionais do PS", disse ao secretariado do seu partido que era o
momento de "levantar as objecções" à entrada do MPLA na Internacional
Socialista, objectivo desejado há 11 anos pelo maior partido angolano. "Obviamente,
para mim, a entrada do MPLA na Internacional Socialista significava um grau
mais elevado de exigência", frisou, argumentando que "a evolução de
Angola e do próprio MPLA não foi a que era prometida".
Para a eurodeputada, há um "grande desconhecimento" da situação
em Angola e poucos portugueses se preocupam em "pôr a situação de Angola
no mapa". "Prefere-se passar por cima. As pessoas podem não ter
a coragem de dar a cara e dar o nome, mas há interesse em saber. Não noto
atitude negativa ou hostil, mas há passividade. Por qualquer que seja a
razão", disse ainda.
Ana Gomes mostrou-se ainda preocupada com a situação de Queirós Chilúvia,
director de Informação da Rádio Despertar, apoiada pela UNITA (oposição),
condenado esta sexta-feira a seis meses de prisão com pena suspensa pelo crime
de difamação da Polícia Nacional.
Queirós Chilúvia foi detido na tarde do passado dia 2, junto à Divisão
Policial do Cacuaco, um dos distritos de Luanda, depois de ter procurado saber
junto da Polícia Nacional a razão dos gritos que tinha ouvido, provenientes do
interior das instalações.
Ana Gomes afirmou ainda que vai pedir especial protecção para os três
angolanos – Rafael Marques, Mwana Capenda e Linda Moisés da Rosa – que
participaram no encontro sobre direitos humanos, em Lisboa. "Portugal
tem responsabilidade porque tem relações humanas, históricas e políticas. Estes
problemas dizem-nos respeito e sinto-me responsável pela segurança destes três
angolanos e escreverei ao Governo português, [ao presidente da Comissão
Europeia] Durão Barroso e à senhora Ashton [chefe da diplomacia europeia] para
que estas pessoas sejam intocáveis", concluiu. Publica