quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Guiné-Bissau: A RESPONSABILIDADE SOCIAL E POLÍTICA DO ESTADO!


Dentro das realidades deste país, sobretudo neste contexto de mudanças de mentalidade que se quer e que é sobretudo necessário, as atitudes e os comportamentos, sociais e políticos, devem ser sumariamente revestidos de boa conduta. Este estádio de exigência tem a sua controvérsia, no nosso contexto, pela constante prática de actos contrários à saudável vivência social e política, baseada nas discórdias do dia-a-dia e, sobretudo, na horizontal conduta nacional de valorização de valores e princípios que nunca fizeram parte do nosso substrato tradicional e cultural.
 
Ricardo Rosa – Gazeta de Notícias (gb), opinião
 
Se outrora fomos classificados de muitos nomes e feitios, excelência na sub-região, pelos nossos hábitos culturais e tradicionais, e sempre numa dimensão de procura do bem-estar, vejamos os vestígios da convivência nas nossas tabancas no interior do país onde se conservam os hábitos de manutenção dos espaços comuns, sejam eles espirituais ou materiais, para salvaguardar um saudável convívio social, hoje, particularmente nos grandes centros urbanos, somos confrontados com uma autêntica bagunça à medida da própria destreza social.
 
Uma tamanha desordem assistimos nas nossas instituições civis e públicas que, mesmo quando criadas condições básicas para apenas organizarem o seu regular funcionamento, surpresas não surpreendentes acabam sempre por acontecer … os imprevistos da nossa terra.
 
Normalmente é sempre uma questão de orçamento cultural, na interpretação de cada um. As despesas são sempre superiores do que a previsão inicial, oscilação de mercado. Um vasto mercado a servir este imenso sistema.
 
As relações sociais são marcadas hoje pelo aprumado sentido patrimonialista na defesa de ideias de tirar vantagem sobre o outro, produzindo pobreza e violência gratuita, para um bem-estar individual ou restrito.
 
A sociedade não se tem pugnado pela produção de bons hábitos sociais e políticos, provocando sim a sua gradual fragmentação, lutas entre famílias, virtudes inactivas e ética de aventura, como dizia Jacome Ratton. Uma sociedade e uma política perversa que não estimula o exercício da cidadania activa e onde os representantes eleitos interessam-se mais pela sua própria sobrevivência política, ignorando os demais que os elegeram. Um verdadeiro paradoxo, um assunto para outros pronuncios.
 
Esta convivência desordenada e anárquica tem levado a uma crescente onda de macrocefalia do estado, gerando promiscuidade e injustiça política e social, onde o processo de integração social não tem sido estendível ao comum dos cidadãos.
 
Este problema acentua-se pela falta de políticas públicas condutoras à reestruturação das instituições da república e que à muito têm provado interacções desestruturadas, onde ninguém mede o que deve e o que não deve fazer, sobrepondo o seu individualismo aos interesses da colectividade, assim como os da hierarquia.
 
A ausência da democracia social tem levado alguns sectores sociais ao desaparecimento, promovendo outras de cariz pseudosocial, obstinados a uma política de puro silogismo, e levando o cidadão comm a um isolamento social, voluntário ou não, que se traduz numa falta de auto-estima induzida pela ausência de uma classe representativa de valores e princípios sociais e políticos, moral e eticamente aceitáveis e ainda, pela inexistência de instituições públicas que interpelam para a sua urgente materialização.    
            
Esta condição tem levado a sociedade a uma morte por auto-destruição pela depressão social e política subjacente.
 
O modelo social e político aqui, coloca o cidadão numa dependência de pequenos benefícios sociais e políticos em troca de uma obediência sem folgo, perigando a sua liberdade, individual ou colectiva. E ainda, diminuindo-lhe as suas capacidades cognitivas e expondo-lhe a uma fragilidade social e política pouco motivante para estabilidade desejável.
 
À sociedade, a responsabilidade de participar neste recomeço que agora se apresenta esperançoso, convidando a uma mudança de mentalidades que se espera na protecção dos valores e princípios sociais e políticos, na liberdade, na diferença, de um pensamento que abranja a população na melhoria do acesso aos direitos sociais e políticos e na garantia de todos contribuírem para uma sociedade sem ghetos étnicos e religiosos camuflados, onde a focalização para os interesses comuns seja o reconhecimento e o respeito devido a todos aqueles que deram as suas vidas e as suas ambições, hipotecando a sua juventude ao longo do percurso que teve o seu momento histórico nas matas de Boé, com a proclamação da nossa nacionalidade.
 
Se ontem foi possível com a participação de todos, hoje mais do que nunca, nesta abertura de espírito, de reaproximação às nossas origens culturais e tradicionais constituintes do tecido social e político, nô ermondadi, seja o momento e o espaço próprio.
 
A quem o direito … a quem a responsabilidade? A todos!