[REPORTAGEM] O Diretor do Centro de Saúde de Cacheu, norte de país, revelou em entrevista a O Democrata que as mulheres e meninas acima dos catorze anos são vulneráveis às infeções vaginais porque usam contraceptivos sem acompanhamento de ginecologista.
Na maternidade, por exemplo, Nivreanes Tcherno Null Gomes destaca que os casos frequentes são as infeções vaginais nas mulheres e meninas acima de catorze anos, idade em que estão sexualmente ativas e as infecções vaginais são doenças sexualmente transmissíveis, porque fazem uso de contraceptivos sem acompanhamento de ginecologista, por isso defende que a melhor forma de se prevenir é usar preservativos e procurar, de vez em quando, um ginecologista para aconselhamentos médicos.
“Se pesquisarmos, descobriremos que a maior parte das mulheres tem infeções vaginais, devido ao uso de contraceptivos como Jadelle e DIU, sem terem em conta que estes métodos só previnem a gravidez, não as doenças sexualmente transmissíveis”, revela.
NIVREANES GOMES RESPONSABILIZA MÃES PELA DESNUTRIÇÃO DAS CRIANÇAS
O médico admite, contudo, que a participação das grávidas nas consultas de rotina está no bom caminho, apesar de não ser logo nos primeiros três meses de gestação. Lembra que em casos normais, as grávidas devem ter oitos consultas e as consultas de captação são feitas tardiamente. Mesmo assim, quase todas as gestantes fazem parto no centro de saúde, tudo graças ao trabalho dos Agentes de Saúde Comunitária. Por isso recomenda que as grávidas procurem sempre um centro de saúde, tendo em contra a própria complexidade de gravidez, evitando argumentos que não ajudam em nada, como “fiz o primeiro parto em casa e nada me aconteceu”, aconselha.
“Graças a Deus, na nossa área sanitária não registamos mortes e nados mortos. É muito raro. Nasceram apenas três bebês com má formação congênita, dos quais dois com o problema de lagos lausperenes (rompimentos nos lábios) e outro com possível trauma durante o parto”, explicou o médico.
Relativamente à desnutrição, Nivreanes disse que essa situação varia conforme a época. Nem sempre acontece. Responsabilizou as mães no que diz respeito à desnutrição, porque julga que são parte determinante na alimentação das crianças. Aliás, depois do aleitamento materno exclusivo não conseguem fazer uma seleção variada e adequada de alimentos para os seus filhos e ficam limitadas a arroz e peixe.
“E essas crianças ficam apenas com um tipo de nutriente que não ajuda no seu desenvolvimento”, alertou.
CENTRO DE SAÚDE DE CACHEU SEM ÁGUA POTÁVEL E NEM AMBULÂNCIA
O centro de saúde de Cacheu que compreende a área sanitária do setor de Cacheu está sem agua potável e não tem uma ambulância devido aos custos de reparação.
A falta de água potável no centro, que dura há seis meses, resultou de uma avaria registada na eletrobomba local. Em relação à ambulância, as informações recolhidas do centro não especificam o tempo de paragem, mas tudo aponta para um período que pode deixar o centro em situação de carência na evacuação de doentes para hospitais com maiores capacidades de atendimento .
A reportagem de O Democrata visitou, no passado fim-de-semana, o referido centro e pôde constatar que é constituído de apenas dois pavilhões, onde funcionam diferentes serviços. O centro serve também de residência para alguns técnicos. O Centro é categorizado pela Ministério da Saúde Pública guineense do tipo B, que responde perante a direção regional de saúde de Cacheu com a sede em Canchungo e tem os serviços de pediatria, maternidade, farmácia, pequena cirurgia, medicina interna e consultas.
Tem dois consultórios. Um para as consultas externas e outro de neonatal. Dispõe de uma salas como enfermaria e apenas treze camas no seu todo e mais quatro berços. O centro de Saúde de Cacheu tem neste momento duas ambulâncias, mas inoperáveis devido às avarias.
É suportado por nove funcionários, dos quais seis técnicos nomeadamente: um médico, uma parteira, um técnico de laboratório, três enfermeiros. Um de curso geral e outro de superior, um auxiliar, um motorista e dois serventes.
Graças ao projeto Prosolia, o centro conseguiu ter os painéis solares que garantem o fornecimento da energia elétrica por apenas doze horas, para conservar alguns reagentes.
Segundo o diretor do Centro, Nivreanes Tcherno Null Gomes, devido a pouca capacidade financeira, a direção não está em condições de pagar o conserto da eletrobomba e uma das ambulâncias com avaria há muito tempo.
Acrescentou, no entanto, que há algumas burocracias a serem respeitadas, porque o centro de Cacheu é do tipo B, com a capacidade de atendimento limitada. Não consegue suportar grandes despesas ou desbloquear grandes valores em dinheiro sem uma autorização prévia dos superiores.
Nivreanes lamentou a falta de técnicos e de meios de evacuação dos doentes e da carência em eletricidade.
“Muitas vezes realizamos partos a lanternas manuais, porque os painéis conseguem aguentar apenas doze horas, isto é, de manhã às 22 horas, no máximo. Em relação à água potável, já lá vão seis mês e sem tê-la e sabemos da importância da água numa instituição como esta. Esperamos conseguir meios antes do final do ano para a reparação da bomba e uma das ambulâncias. A outra já está a ser reparada pelo programa materno infantil (PMI)”, sublinhou.
A área sanitária de Cacheu, que faz a cobertura de seção de Tchurbric, Cobiana e Bianga, é composta por treze mil e trezentos e sessenta e nove habitantes, cuja progressão sanitária é considerada muito positiva pelo Diretor, tendo em conta a comparação feita com os anos anteriores.
A observação do diretor da melhoria significativa registada em relação ao aumento da participação, ou seja, da afluência de doentes, logo na primeira fase da doença, foi conseguida graças à sensibilização feita pelos agentes da saúde comunitária sobre a importância de procurar sempre o centro de saúde em caso de doença para receber cuidados médicos.
Dados apontam que a influência da cura tradicional predominante na região reduzira o fluxo de doentes no centro, porque acreditavam que a cura tradicional sem diagnósticos era mais viável.
“Isso tudo é o resultado do trabalho dos agentes comunitários de saúde. Apesar das sensibilizações feitas, ainda não alcançamos o que desejamos, mas podemos dizer que a situação sanitária de Cacheu está a progredir”, garante.
Nivreanes revelou que as doenças predominantes dependem da época do ano. Por exemplo, o caso da infeção respiratória, que está a dar dores de cabeça de momento devido à mudança do clima. A redução da diarreia e do paludismo, que não foram registadas em grande número como nos anos anteriores, contribuiu para a baixa da taxa de incidência do paludismo. Isso tem a ver com o uso das tendas impregnadas, graças à distribuição de mosquiteiros MILDA feita este ano. A educação sanitária feita nas rádios comunitárias levou à apropriação, por parte da população, das medidas preventivas contra o paludismo e outras doenças de origem higiênica, ou seja, doenças causadas por falta da higiene básica.
No serviço pediátrico, por exemplo, o médico afirma que o hospital depara-se com problemas respiratórios e diarreicos, sendo os casos mais comuns nos adolescentes abaixo dos quinze anos de idade. Elas contraem a doença através de poeira e da humidade, que lhes provoca, assim, infeções virais e alergias.
Relativamente à farmácia, Nivreanes disse que recebem medicamentos através do CECOME regional, mas por vezes entra em ruptura.
“Neste momento há medicamentos em abundância, mas infelizmente a CECOME não consegue responder a tempo e há um problema: ainda não se pode comprar medicamentos fora de CECOME”, lamenta.
Por: Epifania Mendonça
Foto: E.M