A FOMICRES é uma
organização de recolha de armas e reinserção de ex-combatentes que nota desde
outubro de 2012 um recuo na entrega de armas. Albino Forquilha, o responsável,
fala num maior controlo dentro da RENAMO.
Desde o final de
2012, Albino Forquilha nota uma diminuição no fluxo de entrega de armas da
RENAMO, o maior partido da oposição em Moçambique e o único a deter armamento.
De acordo com o responsável da FOMICRES - Força Moçambicana para a Investigação
de Crimes e Reinserção Social-, dentro do próprio partido há ordens para que
isso não aconteça.
"Ainda existe
elementos da RENAMO que nos transmitem informação e que colaboram connosco,
embora já não recebamos armas nas quantidades que recebíamos", sublinha Albino
Forquilha, em entrevista à DW Africa.
"Existem
elementos da RENAMO que estão interessados em entregar o armamento e em
reintregrar-se na sociedade, não querem tiroteios, nem ataques, mas parece que
há controlo dentro do partido, vigiam-se uns aos outros", suspeita o
responsável da FOMICRES.
Aos 12 anos, Albino
Forquilha foi raptado pela RENAMO para servir como criança-soldado. Mais tarde
combateu pela FRELIMO e assim a guerra roubou-lhe parte da vida. Com o Acordo
Geral de Paz, assinado em Roma em 1992, julgou que a guerra em Moçambique não voltaria.
Porém, 2013 foi um ano marcado pela escalada da tensão político-militar entre a
maior força da oposição e o Governo de Maputo.
Em 1995, fundou a
FOMICRES, na altura um movimento cívico, cujo objetivo prende-se com a
manutenção da Paz e estabilidade social. Para tal, dedica-se à recolha de armas
e à promoção da paz no país. Em 2007, este movimento ganhou estatuto de
organização não governamental.
Ataques como
estratégia
Segundo Albino
Forquilha, a RENAMO continua a utilizar as armas para aparecer na vida política
do país.
"Não acredito
que a RENAMO esteja interessada em fazer uma guerra, mas vê na guerra um meio
para aparecer na cena política, porque não consegue colocar ideias claras nos
jornais", lamenta o fundador da FOMICRES.
"Assim faz um
pressão indireta para que o Governo ceda às exigências", defende Albino
Forquilha.
De acordo com o
fundador desta organização para a paz, outros partidos em Moçambique já
conseguiram provar através da democracia que é possível ter lugar na vida
política do país. Em relação à RENAMO, Albino Forquilha defende uma remodelação
dentro do partido.
"A RENAMO não
faz nenhum congresso há vários anos, não se reúne nas províncias, e sempre que
fala recorda a guerra. Não há pensamento, não há massa cinzenta para ir ao
encontro daquilo que são as necessidades do povo, fazer uma estratégia de
governação e apresentar ao povo nas eleições", explica.
Reintegração social
e educação cívica como prioridades
Reintegrar os
homens da RENAMO na sociedade é, segundo Forquilha, o caminho para a
estabilização política, social e militar no país, um processo que não foi
executado em pleno depois do fim da guerra.
"Nós
precisamos de reintegrar rapidamente esses homens que reclamam a sua
reintegração", sugere o especialista. "Penso que o Estado poderia
fazer isto em nome da paz, porque promover o regresso do cidadão à sociedade é
algo que traz paz ao seio da comunidade e ao coração dele", acrescenta.
Por outro lado,
Albino Forquilha propõe também a aposta na educação cívica dos partidos.
"Com o apoio da comunidade internacional, devíamos educar civicamente os
nossos partidos políticos para que não detenham armamento", defende.
"E devíamos
mostrar-lhes que a democracia é um trabalho constante e que se ganha o voto
através das novas ideias que vamos colocando permanentemente dentro das
comunidades".
Deutsche Welle – Autoria:
Nuno de Noronha – Edição: António Rocha Ver notícia